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Recuo no preço dos alimentos gera deflação
IGP-M fecha agosto em -0,32% com queda nos preços agropecuários, mas no acumulado de 12 meses a alta é de 13,6%
Apesar de queda no atacado, analistas duvidam que preço ao consumidor caia com mesma velocidade e intensidade da alta
TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL
O IGP-M, que assustou no
início do ano com forte alta puxada pela inflação mundial dos
alimentos, registrou em agosto
deflação de 0,32%. O motivo foi
a queda no preço dos produtos
agropecuários, especialmente
no atacado, que recuaram
4,81% no mês após subirem
3,69% em julho, o que havia levado o índice a subir 1,76%.
Foi a primeira baixa registrada no IGP-M desde abril de
2006 (-0,42%). No ano, o índice
acumula alta expressiva de
8,35%. Nos últimos 12 meses,
chega a 13,63%. Conhecido por
reajustar os preços de aluguéis
e serviços públicos, a expectativa do mercado é que o IGP-M
feche 2008 com alta de 10,91%.
A maior queda vista em agosto foi nos preços do atacado,
que recuaram 0,74%, depois de
subirem 2,20% em julho. Segundo Salomão Quadros, coordenador da pesquisa do IGP-M
da FGV, 80% dessa contração
dos preços dos produtores foi
conseqüência do recuo no preço dos alimentos (-4,81%) e matérias-primas brutas (-4,71%),
movimento vivido em todo o
mundo por conta do aumento
da produção e da expectativa de
desaceleração no consumo.
A pesquisa mostra também
que a queda dos preços no atacado já chegou ao consumidor.
No varejo, a alta de preços foi de
0,23% em agosto -contra
0,65% de julho. Só os alimentos
tiveram baixa de 0,46% nos
preços, após uma alta de 1,41%
no mês anterior.
Para Quadros, há dúvidas se
o varejo vai repassar com a
mesma intensidade e velocidade a baixa nos preços do atacado, como aconteceu na alta.
"Até o momento, as quedas
de preço no varejo estão a metade [da alta]. Pode ser que ainda aconteça nos próximos meses, mas também pode ser a hora de as empresas recomporem
as margens [de lucro], que perderam nos últimos meses."
O feijão tipo carioquinha, por
exemplo, já caiu 7,55% em
agosto no atacado e só 2,92%
no varejo. O arroz branco beneficiado recuou 1,9% no atacado
em agosto e 2,24% em julho,
mas só caiu 0,8% no varejo neste mês (em julho subiu 1,89%).
Outro caso de atraso no repasse da queda de custos foi
visto no trigo e derivados. Enquanto o preço do trigo no atacado derreteu 14,48% em agosto, a baixa da farinha de trigo no
varejo foi de 2,75%. No caso do
pão francês, a baixa no varejo
foi de apenas 0,25%.
A única exceção foi o da carne
bovina, que recuou no atacado
7,39% em julho e 0,6% e agosto
-no varejo, a baixa foi de 6,29%
e de 0,3% em julho e agosto.
Para a FGV, a maior preocupação é com o aumento nos
preços dos serviços. São os que
menos sofrem com a pressão de
preços internacionais. Em 12
meses, os serviços não administrados - pessoais, médicos,
de transportes etc.- subiram
5,94%; até julho, a alta era de
4,23%. Já os serviços administrados, que têm seus preços
controlados, subiram em 12
meses de 2,45% para 2,69%. "A
renda é tudo [para o setor de
serviços], não tem tanto impacto do crédito", disse Quadros.
Para o economista Elson Teles, da corretora Concórdia, a
deflação do IGP-M em agosto
"não deixa de ser uma boa notícia", mas não muda o "plano de
vôo" do Banco Central, que deverá manter aumento de 0,75
ponto percentual nos juros em
setembro.
"Há uma série de dúvidas
quanto à demanda e ao crescimento do crédito. Também é
cedo para dizer que a alta dos
preços dos alimentos está encerrada. [O resultado] garante
dois meses sem pressão nos alimentos. Mas, se o preço das
commodities cair muito, aí terá
impacto no câmbio. Para o
IGP-M ficar abaixo de 10%,
precisa uma nova queda nos
preços agropecuários", disse.
O economista Juan Jensen,
do Ibmec-SP, também afirma
que a deflação não resolve o
problema da alta dos alimentos, que apenas devolveu uma
pequena parte da valorização
que teve nos últimos meses.
Jensen acredita que, quanto
mais competitivo for o setor,
maior será o repasse da queda
nos custos do atacado.
Mantega
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, comemorou ontem a deflação dos preços medidos pelo IGP-M, divulgado
ontem. Ele afirmou que o resultado mostra que a "inflação está sob controle no Brasil" e vai
ficar dentro da meta neste ano.
"Estou muito satisfeito com
o IGP-M. Significa que a inflação no mundo está se desacelerando e no Brasil também. Podemos dizer que a inflação está
sob controle e vai ficar dentro
da meta", afirmou o ministro
da Fazenda. "Eu diria que [a
queda da inflação] mostra que o
Ministério da Fazenda está certo. E o Banco Central também
está certo. Os dois estão certos", concluiu.
Colaborou a Sucursal de Brasília
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