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OS CHINESES ESTÃO CHEGANDO
Para ter controle das operações, empresários descartam participação de "intermediários"
China quer negócios "diretos" com o Brasil
MAURO ZAFALON
DA REDAÇÃO
Os chineses estão chegando e
com uma nova proposta de comércio. Querem negociações diretas com os brasileiros, sem a
participação de intermediários.
Os primeiros contatos começaram a ser feitos, mas os negócios
ainda são incipientes.
Segundo os chineses, as negociações diretas permitem maior
controle das operações, inclusive
da qualidade das mercadorias.
Atualmente, os maiores negócios entre o Brasil e a República
Popular da China vêm da soja,
mas aumentam também as negociações para a elevação das exportações de carnes, suco de laranja,
café, leite e até genética animal. "O
mercado chinês é tão grande que
qualquer pedido deles faz os negócios tremerem", diz o diretor-geral da Bolsa de Mercadorias &
Futuros, Edemir Pinto.
De fato, essa reaproximação
com a China começa a mostrar
números elevados. Nos últimos
30 anos, as relações comerciais
entre os dois países produziram
poucos resultados, mas são crescentes após 1999. Naquele ano, o
comércio bilateral ficou em US$
1,54 bilhão. Neste ano, deve chegar a US$ 5,5 bilhões e, em 2005,
poderá atingir US$ 10 bilhões, segundo Charles Tang, presidente
da Câmara de Comércio e Indústria Brasil e China (CCIBC).
Início pela soja
A soja é um desses exemplos de
crescimento contínuo. Em 2000,
os chineses importaram 1,78 milhão de toneladas do grão do Brasil. Neste ano, devem comprar 7
milhões de toneladas, confirmando a posição de maior mercado
importador do produto nacional.
É exatamente pela soja que os
chineses querem começar a fazer
negócios independentes. Já estiveram no Paraná, em Mato Grosso do Sul e em Mato Grosso. Nelson Costa, da Ocepar (Organização das Cooperativas do Estado
do Paraná), diz que as conversas
estão no início e os negócios ainda
não começaram. "As negociações
ponta a ponta ainda estão nas intenções", diz Costa.
Luiz Sardemberg, da Coabra,
cooperativa da região de Campo
Grande (MS), diz que as negociações diretas com os chineses serão
interessantes, mas por ora eles
vão comprar das "tradings". Essas negociações vão crescer passo
a passo e poderão ser aceleradas
se os chineses investirem mais na
agricultura brasileira.
"Eles têm o dinheiro e nós, a capacidade de produzir. Para ter
abastecimento garantido, os chineses deveriam garantir nossas
safras antecipando recursos. É o
que fazem as "tradings'", afirma
Sardemberg.
No próximo mês, Eduardo Requião, superintendente do porto
de Paranaguá (PR), vai à China
firmar um acordo que garante aos
chineses o envio de 6 milhões de
toneladas de soja por ano pelo
porto paranaense. A exigência básica dos asiáticos é que o produto
seja de qualidade.
Para atender a esse pedido, o
porto deverá ser aumentado em
três novos berços -atualmente
são cinco-, com investimentos
de R$ 150 milhões. Os chineses
pagarão as taxas de embarque da
soja cobradas pelo porto com o
fornecimento de equipamentos
portuários para a ampliação.
Pode ser inviável
Sobre negociações diretas, uma
"trading" consultada diz que será
quase impossível os chineses fazerem apenas negociações diretas.
A movimentação de milhões de
toneladas de grãos, segundo essa
"trading", requer infra-estrutura
muito grande, sendo inviável para
um único importador montar a
logística necessária.
Tang diz que o papel das "tradings" é importante nas negociações, principalmente porque esmagam o produto, geram empregos e dão segurança aos negócios.
A Câmara, no entanto, está intermediando várias negociações que
vão desde as áreas de leite, carnes
e café até as de genética animal.
"Não podemos desperdiçar a
chance de as empresas fazerem
parcerias", diz ele.
Uma das parcerias resultou na
colocação de leite longa vida e suco de milho da Cemil (Cooperativa Central Mineira de Laticínios),
da região de Patos de Minas, nos
supermercados da China.
Para o futuro
João Bosco Ferreira, diretor-presidente da Cemil, diz que o
"mercado chinês é grande, mas
como opção futura". Para Ferreira, o chinês está mais acostumado
a tomar chá do que leite. "Só
quando for desenvolvido esse hábito entre eles é que o mercado será grande", afirma.
Outro produto que volta para os
supermercados da China é o Café
Pelé. A Cacique, pioneira no mercado de café na China desde o início dos anos 70, fez um novo esforço para recolocar o produto
naquele mercado.
Maria Bigoni, gerente de contas
da empresa, diz que fez uma parceria com um distribuidor chinês
e no final deste mês será feito o
primeiro embarque.
O produto vai pronto para as redes de supermercados e a vantagem dessas vendas é que todo o
valor agregado da mercadoria fica
no Brasil, diz Bigoni.
Os próximos produtos que estão na lista de exportação são as
carnes. Pedro Bordon, diretor da
Câmara para a área de carne bovina, diz que a Sars (síndrome respiratória aguda grave) dificultou
um pouco os negócios, mas que a
partir do próximo ano o Brasil
poderá iniciar os embarques.
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