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São Paulo, domingo, 28 de setembro de 2003

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OS CHINESES ESTÃO CHEGANDO

Para ter controle das operações, empresários descartam participação de "intermediários"

China quer negócios "diretos" com o Brasil


MAURO ZAFALON
DA REDAÇÃO

Os chineses estão chegando e com uma nova proposta de comércio. Querem negociações diretas com os brasileiros, sem a participação de intermediários. Os primeiros contatos começaram a ser feitos, mas os negócios ainda são incipientes.
Segundo os chineses, as negociações diretas permitem maior controle das operações, inclusive da qualidade das mercadorias.
Atualmente, os maiores negócios entre o Brasil e a República Popular da China vêm da soja, mas aumentam também as negociações para a elevação das exportações de carnes, suco de laranja, café, leite e até genética animal. "O mercado chinês é tão grande que qualquer pedido deles faz os negócios tremerem", diz o diretor-geral da Bolsa de Mercadorias & Futuros, Edemir Pinto.
De fato, essa reaproximação com a China começa a mostrar números elevados. Nos últimos 30 anos, as relações comerciais entre os dois países produziram poucos resultados, mas são crescentes após 1999. Naquele ano, o comércio bilateral ficou em US$ 1,54 bilhão. Neste ano, deve chegar a US$ 5,5 bilhões e, em 2005, poderá atingir US$ 10 bilhões, segundo Charles Tang, presidente da Câmara de Comércio e Indústria Brasil e China (CCIBC).

Início pela soja
A soja é um desses exemplos de crescimento contínuo. Em 2000, os chineses importaram 1,78 milhão de toneladas do grão do Brasil. Neste ano, devem comprar 7 milhões de toneladas, confirmando a posição de maior mercado importador do produto nacional.
É exatamente pela soja que os chineses querem começar a fazer negócios independentes. Já estiveram no Paraná, em Mato Grosso do Sul e em Mato Grosso. Nelson Costa, da Ocepar (Organização das Cooperativas do Estado do Paraná), diz que as conversas estão no início e os negócios ainda não começaram. "As negociações ponta a ponta ainda estão nas intenções", diz Costa.
Luiz Sardemberg, da Coabra, cooperativa da região de Campo Grande (MS), diz que as negociações diretas com os chineses serão interessantes, mas por ora eles vão comprar das "tradings". Essas negociações vão crescer passo a passo e poderão ser aceleradas se os chineses investirem mais na agricultura brasileira.
"Eles têm o dinheiro e nós, a capacidade de produzir. Para ter abastecimento garantido, os chineses deveriam garantir nossas safras antecipando recursos. É o que fazem as "tradings'", afirma Sardemberg.
No próximo mês, Eduardo Requião, superintendente do porto de Paranaguá (PR), vai à China firmar um acordo que garante aos chineses o envio de 6 milhões de toneladas de soja por ano pelo porto paranaense. A exigência básica dos asiáticos é que o produto seja de qualidade.
Para atender a esse pedido, o porto deverá ser aumentado em três novos berços -atualmente são cinco-, com investimentos de R$ 150 milhões. Os chineses pagarão as taxas de embarque da soja cobradas pelo porto com o fornecimento de equipamentos portuários para a ampliação.

Pode ser inviável
Sobre negociações diretas, uma "trading" consultada diz que será quase impossível os chineses fazerem apenas negociações diretas. A movimentação de milhões de toneladas de grãos, segundo essa "trading", requer infra-estrutura muito grande, sendo inviável para um único importador montar a logística necessária.
Tang diz que o papel das "tradings" é importante nas negociações, principalmente porque esmagam o produto, geram empregos e dão segurança aos negócios. A Câmara, no entanto, está intermediando várias negociações que vão desde as áreas de leite, carnes e café até as de genética animal. "Não podemos desperdiçar a chance de as empresas fazerem parcerias", diz ele.
Uma das parcerias resultou na colocação de leite longa vida e suco de milho da Cemil (Cooperativa Central Mineira de Laticínios), da região de Patos de Minas, nos supermercados da China.

Para o futuro
João Bosco Ferreira, diretor-presidente da Cemil, diz que o "mercado chinês é grande, mas como opção futura". Para Ferreira, o chinês está mais acostumado a tomar chá do que leite. "Só quando for desenvolvido esse hábito entre eles é que o mercado será grande", afirma.
Outro produto que volta para os supermercados da China é o Café Pelé. A Cacique, pioneira no mercado de café na China desde o início dos anos 70, fez um novo esforço para recolocar o produto naquele mercado.
Maria Bigoni, gerente de contas da empresa, diz que fez uma parceria com um distribuidor chinês e no final deste mês será feito o primeiro embarque.
O produto vai pronto para as redes de supermercados e a vantagem dessas vendas é que todo o valor agregado da mercadoria fica no Brasil, diz Bigoni.
Os próximos produtos que estão na lista de exportação são as carnes. Pedro Bordon, diretor da Câmara para a área de carne bovina, diz que a Sars (síndrome respiratória aguda grave) dificultou um pouco os negócios, mas que a partir do próximo ano o Brasil poderá iniciar os embarques.

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