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ESPETÁCULO EM XEQUE
Segundo estudo, setores público e privado gastarão neste ano metade do necessário em infra-estrutura
Investimento não deve passar de US$ 10 bi
FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL
A redução da taxa de juros ajuda, mas não é suficiente para levar
o país a crescer. A expansão da
economia depende de um ciclo de
investimentos, que resultaria em
aumento de emprego, renda e
consumo, na análise de empresários, economistas e representantes do próprio governo.
Mas, se depender da disposição
de investir do governo e dos empresários, o Brasil não deslancha
nem em 2004.
Os US$ 15 bilhões que os setores
público e privado planejavam investir neste ano em infra-estrutura não devem passar de US$ 10 bilhões, segundo levantamento da
Abdib (Associação Brasileira da
Infra-estrutura e Indústrias de
Base). Pior: estudo da associação
mostra que a demanda por investimentos em infra-estrutura
-principalmente nos setores de
energia, petróleo e gás- é de US$
20 bilhões anuais.
Isso é, o Brasil investe apenas
metade do que precisa em infra-estrutura.
"O país não tem recursos para
poder fazer esses investimentos e
não vai tê-los mesmo com as reformas tributária e previdenciária. O dinheiro estrangeiro também está restrito, além de a capacidade de endividamento do país
estar limitada. A saída é criação de
um fundo de financiamento com
garantias do Banco Mundial",
afirma José Augusto Marques,
presidente da Abdib.
Nos últimos dois anos, os setores público e privado também investiram menos em infra-estrutura e indústria de base do que planejaram. Em 2002, a estimativa
era investir US$ 22 bilhões, mas
esse número ficou em US$ 14,3 bilhões. Em 2001, a previsão era de
US$ 25 bilhões, mas o investimento feito foi de US$ 20 bilhões.
"Além da falta de recursos, o
país tem problemas de regulamentação -por exemplo, a energia será vendida a que preço? E há
demora na obtenção de licenças
ambientais. Fora isso, o Estado,
que é regulador e fiscalizador, é
carente de pessoas com capacidade de gestão", afirma Marques.
Levantamento da Fundação Getúlio Vargas feito entre o final de
abril e o final de maio mostra que
apenas 30% das 1.291 empresas
consultadas tinham intenção de
investir em expansão da capacidade produtiva ao longo deste
ano. No mesmo período do ano
passado, esse percentual era de
32%. Em 2001, de 35%.
Os setores que estão menos dispostos a investir em aumento da
produção em 2003, na comparação com 2002, informa a FGV, são
químico, metalúrgico, de material
de transporte e de alimentos. O
consumo interno contido e os juros altos são os principais inibidores desses investimentos.
Estrangulamento
Vale lembrar que, segundo a
FGV, a indústria metalúrgica já
operava com 90,8% da capacidade em abril. Acima de 80%, para
alguns setores, já é sinal de que é
preciso expandir. Os mais dispostos a investir em capacidade produtiva neste ano, na comparação
com o ano passado, são os setores
mecânico, de material elétrico e
de comunicações e têxtil.
No levantamento da FGV, o setor de papel e celulose, um dos
que operam no limite da capacidade de produção, aparece como
desinteressado em investir em
produção -só 35% das empresas
ouvidas pretendem expandir a
capacidade. No ano passado, esse
percentual era de 62%.
Um grupo de dez empresas do
setor, no entanto, acaba de apresentar a representantes do governo um plano de investimentos de
US$ 14,4 bilhões em dez anos para
aumentar a capacidade. Um terço
dos recursos viriam das próprias
empresas, informa a Bracelpa, associação dos fabricantes.
"Projetos de investimentos de
sempre existem. Mas, para o país
voltar a crescer a taxas superiores
a 4% ou 5% ao ano, precisa aumentar os investimentos em geral", afirma Jorge Ferreira Braga,
coordenador da sondagem industrial da FGV. Segundo ele, os investimentos no país, que representaram 18,7% do PIB (Produto
Interno Bruto) em 2002, teriam de
subir para 24% do PIB.
Para o país retomar, na análise
de Maurício Borges Lemos, diretor do BNDES (Banco Nacional
de Desenvolvimento Econômico
e Social), a taxa de juros real da
economia também teria de cair
muito mais, para 6% ao ano
-hoje é da ordem de 17%. Além
disso, diz, o país precisa de um
boom de investimentos.
A queda de juros, na sua análise,
é importante não para criar impacto no consumo, mas para melhorar a percepção sobre os custos
de oportunidades de investimentos. A expansão da economia só
virá por meio de investimentos
públicos, seguidos de privados.
"O consumo virá pela geração
de emprego e renda, e não pelo
boom de crédito", afirma Lemos.
Com a queda de juros, os problemas que o país tem para resolver ficam ainda mais expostos, na
análise de Júlio Gomes de Almeida, diretor-executivo do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial). "Como ficarão os investimentos em energia, a política tarifária e as regras
para o setor de elétrico?"
Exportações
A redução gradual dos juros, dizem os economistas, pode dar um
fôlego para a economia no curto
prazo, já que estimula o financiamento para o consumidor. A volta dos investimentos depende
ainda da melhora do perfil das exportações (vender no exterior
produtos de maior valor) e de políticas setoriais.
O estímulo à indústria da construção civil, diz Fábio Silveira,
economista da MB Associados,
também pode dar um impulso à
economia, já que absorve grande
volume de mão-de-obra.
O que os economistas dizem é
que a redução de juros anima alguns setores e pode dar fôlego ao
país num curto prazo. O que o
país precisa, na análise de empresários e economistas, é de investimentos. Se não, ficará condenado
a um crescimento pífio.
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