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ESPETÁCULO DO CRÉDITO
Instituições cobram taxa mais alta nas grandes redes; varejo amplia lucro com taxa do crediário
Juros são maiores nas lojas que vendem mais
ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
As financeiras cobram juros
mais altos para a venda de produtos em grandes redes varejistas. Já
em lojas menores, com um ou
dois estabelecimentos, a taxa acaba sendo menor, o que torna o
preço final menos salgado.
Irritado com a atual política do
setor, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou duramente as
financeiras na sexta-feira, classificando-as como empresas de crédito que cobram 333% de juros ao
ano para uma simples compra de
um liquidificador. Disse que isso
está "matando o povo".
O juro do comércio é cobrado
em toda a venda parcelada, no
formato de carnês, e é a financeira
que bate o martelo e decide a taxa
que o consumidor vai ter de arcar.
Levantamento da Folha realizado na semana passada em 11 redes
de varejo mostra que uma mesma
financeira determina taxas diferentes para lojas de um mesmo
segmento (eletrônico, construção
civil, supermercados etc.).
A taxa em uma cadeia de grande
porte chega a ser quase o dobro
do que numa loja menor. Ambas
vendem os mesmos itens.
Diferença
Exemplo: um televisor de 20 polegadas (tamanho mais comum)
da marca LG custa R$ 649 na rede
Fast Shop, em São Paulo. Em seis
vezes, as parcelas serão de R$
133,65. Os juros estão na casa de
6,4% ao mês para operações em
até seis vezes na loja da rede no
Shopping Paulista, na capital.
Os juros são fixados pela Cetelem, financeira do Grupo BNP
(Banque Nationale de Paris), que
também opera com a rede Denovo, de pequeno porte e localizada
no litoral sul de São Paulo. Lá, a
mesma TV da marca LG custará
menos: seis vezes de R$ 112,23,
com juros mais baixos, de 3,5% ao
mês. A taxa é válida para operações em até oito vezes.
Não é um caso isolado. A Losango, financeira do banco Lloyds
TSB, é responsável pelas operações da cadeia de lojas Franco Eletro, com 38 lojas nos Estados de
Goiás, Tocantins e Maranhão. A
taxa varia de 5,4% a 6,4% ao mês.
Na rede Tele-Rio, do Rio de Janeiro, com 28 pontos-de-venda,
paga-se menos. A taxa na venda
parcelada está em 4,5% por mês.
Dados da Anefac, associação
dos executivos de finanças, mostram que o juro cobrado em grandes redes se "descolaram" da praticada em médias e pequenas lojas
neste ano, a partir de março. A
puxada fez com que o juro médio
do setor passasse de 6,66%, em fevereiro, para 6,75% em março. É a
maior alta desde janeiro de 1999.
Receita financeira
Analistas lembram, no entanto,
que há lojas que passaram a negociar com as financeiras taxas mais
elevadas para conseguir abocanhar uma margem de lucro maior
na operação, e, com isso, elevar a
receita financeira da rede de lojas.
A estratégia consiste em tentar
lucrar mais mesmo que haja uma
retração nas vendas. Há cinco
meses consecutivos o varejo no
país registra queda no volume de
itens vendidos.
Segundo Alberto Serrentino,
sócio da Gouvêa de Souza & MD,
por conta desse cenário, há redes
que vendem sem garantir lucro
com a operação, mas tentam segurar o resultado na parte financeira. "Na teoria, isso não deveria
ocorrer. Lojas maiores deveriam
fechar mais operações e, com isso,
faturar mais com a venda, não
com juros", diz Eugênio Foganholo, da Mixxer Consultoria.
Cobrar diferentes taxas de acordo com o porte da loja não é algo
comum, rebatem as financeiras.
São casos isolados.
Afirmam que certos segmentos
(como eletrônico e informática)
têm taxas de inadimplência mais
elevadas em grandes lojas e, com
isso, o risco de a financeira tomar
calote passa a ser maior. Portanto,
como medida de segurança são
definidos juros mais elevados.
Além disso, em períodos de demanda reprimida e renda em
queda, quando aumenta o número de clientes com parcelas em
atraso, o juro se eleva. "Isso infelizmente acontece se a inadimplência sobe muito", diz Cecília
Pinto, gerente de crédito direto ao
consumidor do PanAmericano.
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