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IMPASSE
Professor diz que, com poder dividido, será necessária costura política para formar diretorias a fim de evitar fissura institucional
Racha na cúpula ameaça estrutura da Fiesp
SANDRA BALBI
DA REPORTAGEM LOCAL
O racha na liderança dos industriais paulistas, na eleição para a
nova diretoria da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de
São Paulo) e do Ciesp (Centro das
Indústrias do Estado de São Paulo), ameaça a atual estrutura da federação. "Na arquitetura da entidade, parte do poder e da visibilidade política está concentrada em
cerca de dez diretorias técnicas,
ou departamentos, cujos titulares
são indicados pelo presidente da
Fiesp e do Ciesp", afirma Alvaro
Bianchi, professor de ciência política da Unicamp.
Bianchi defendeu, em abril deste ano, tese de doutorado em que
analisa a estrutura das duas instituições e suas eleições. No ano de
1980, por exemplo, foi eleita a chapa de oposição, mas nesse caso ela
assumiu tanto a Fiesp como o
Ciesp. No pleito deste ano, a oposição ficou só com a federação.
"Na época, manteve-se a unidade,
enquanto agora há dois presidentes. Quem vai escolher as diretorias partilhadas?", indaga.
Para evitar uma nova fissura,
desta vez institucional, será necessária uma costura política entre os
dois presidentes -Paulo Skaf, da
Fiesp, e Claudio Vaz, virtual presidente do Ciesp. "Sem isso, terá de
ocorrer uma "reforma constitucional" nas entidades, já que a estrutura existente não prevê a duplicidade de poder", diz Bianchi.
Skaf, que contesta o resultado
da votação no Ciesp no comitê
eleitoral, diz que vai "abrir os braços da Fiesp para a sociedade", o
que inclui a possibilidade de partilhar as diretorias técnicas com
os ex-adversários. "Todos vão ser
muito bem recebidos e muito
úteis", diz o empresário. Vaz diz
que vai discutir com os industriais
que o apoiaram quais departamentos interessam ao Ciesp ocupar e proporá à nova diretoria da
Fiesp um trabalho coordenado.
"Os cargos podem ser duplicados
ou coordenados; se não houver
possibilidade de acordo, ele [Skaf]
faz os [departamentos] dele, e eu,
os meus", diz.
Projeto
A composição das diretorias
técnicas é importante, segundo
Bianchi, pois é nela que se revela a
força de cada setor industrial dentro da Fiesp. "Historicamente, as
chapas eleitas representam uma
fração do empresariado paulista,
nem sempre homogênea", diz.
No período analisado pelo cientista político, as décadas de 1980 e
1990, os industriais que disputaram o comando da federação manifestavam uma multiplicidade
de projetos de alcances diferenciados, sem que fosse possível desenhar um "projeto empresarial"
para o país, segundo Bianchi.
Carlos Eduardo Moreira Ferreira, que comandou a Fiesp por
duas gestões, tinha apoio dos setores internacionalizados -papel e papelão e multinacionais.
"Ele caracterizou-se pela adesão
ao projeto neoliberal do governo
Fernando Henrique Cardoso e foi
um defensor do programa de reformas e privatizações."
Já o atual presidente, Horacio
Lafer Piva, originário do setor de
papel e papelão, representaria
também os setores voltados para
o mercado interno, como metalurgia, metal-mecânico e eletroeletrônico. "Piva teve uma posição
crítica ao neoliberalismo e às reformas estruturais e cobrava do
governo um projeto industrial em
que o Estado tivesse uma ação indutora do desenvolvimento", diz.
Skaf, por sua vez, representaria
os setores mais atingidos pela
abertura do mercado nas últimas
décadas, como têxteis e brinquedos, e os exportadores. "Mas ainda não deixou claro qual o seu
projeto de país", diz Bianchi.
Josué Alencar, presidente da
Coteminas e filho do vice-presidente da República, José Alencar,
que apoiou a eleição de Skaf, define esse projeto. "O objetivo é a defesa das classes produtoras que
têm sido menos valorizadas nas
últimas décadas. O país tem dado
muita relevância às atividades-meio [setor financeiro], e não às
atividades-fim [os setores produtivo]. Até o que se convencionou
chamar de risco-país não mede o
risco do país. Há uma distorção
de valores", afirma Alencar.
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