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EM TRANSE
Tentativa de lucrar mais com dívida do governo e nova pesquisa Datafolha devem fazer dólar passar barreira dos R$ 4
Mercado prepara amanhã terça-feira gorda
ÉRICA FRAGA
FABRICIO VIEIRA
ISABEL CAMPOS
DA REPORTAGEM LOCAL
O dólar poderá bater um novo
recorde nesta segunda-feira. Se o
mercado financeiro continuar
reagindo como na última semana,
a cotação da moeda, que fechou
em R$ 3,88 na sexta-feira, poderá
passar dos R$ 4.
Três fatores estarão influenciando o câmbio amanhã: a nova pesquisa de intenção de votos divulgada hoje pelo Datafolha e os vencimentos, na terça-feira, de US$
1,25 bilhão em dívida cambial e do
mercado futuro de dólar. Esses
vencimentos serão liquidados
com base na cotação do dólar
Ptax (preço médio do dólar, medido diariamente pelo BC) de segunda-feira.
A pesquisa divulgada hoje pelo
Datafolha (leia no caderno Eleições) mostra o que o mercado
mais temia: aumentaram as chances de Luiz Inácio Lula da Silva,
candidato do PT, ganhar as eleições no primeiro turno.
Segundo o Datafolha, Lula cresceu um ponto percentual em relação à pesquisa divulgada domingo passado e atingiu 45% das intenções de voto. O tucano José
Serra e Anthony Garotinho, do
PSB, ficaram na mesma posição,
com 19% e 15% das intenções de
voto, respectivamente.
Já Ciro Gomes, do PPS, voltou a
cair. Está com 11% das intenções,
contra 13% da semana passada.
Considerando os votos válidos,
o percentual de participação de
Lula subiu de 48% para 49%. Em
tese, o petista está a apenas um
ponto percentual da vitória no
primeiro turno. Para isso, é preciso atingir 50% dos votos válidos
mais um. A margem de erro da
pesquisa é de dois pontos percentuais para mais ou para menos.
O mercado deverá reagir negativamente a essa pesquisa, pois
acredita que, se houver um segundo turno entre Lula e Serra, o tucano teria chance de inverter o
quadro e ganhar a disputa.
Serra é o candidato do mercado
e dos investidores estrangeiros.
Para eles, significa a continuidade
da atual política monetária e risco
mínimo de atitudes radicais, como calote na dívida pública e restrições à saída de dólares do país.
Vencimentos preocupam
O vencimento de dívida pública
atrelada ao câmbio na terça-feira
é outro fator que tem tudo para
pressionar o dólar amanhã.
O Banco Central já havia avisado que rolaria no máximo 70% do
vencimento de US$ 1,25 bilhão.
Na sexta, o BC deu início à operação e foram renegociados 21%
dos papéis, pagando taxas próximas a 30% ao ano. O BC tentou fazer uma rolagem maior, mas falhou no intento, pois o mercado
pediu taxas ainda mais elevadas.
A expectativa agora é saber quanto dessa dívida será repactuado.
Na semana passada, venceram
US$ 1,5 bilhão em dívida cambial.
O BC optou por quitar o vencimento todo. O que se viu no mercado, nos dias que antecederam o
vencimento, foi o dólar bater novos recordes.
Na avaliação de analistas, os
bancos, principais detentores dos
papéis, forçaram a cotação do dólar para cima com a intenção de
lucrar mais com a operação. Como a liquidação desse tipo de papel é feita em reais com base no
dólar Ptax, quanto mais sobe a cotação, maior é o ganho do detentor dos títulos quando a dívida é
liquidada.
A expectativa é que o movimento se repita amanhã. Operadores
afirmam que não há demanda suficiente no mercado para que o
governo consiga rolar os 70% do
lote pretendidos, exceto se pagar
os juros que os detentores da dívida querem.
A taxa que o governo paga para
rolar sua dívida atrelada ao câmbio acompanha o cupom cambial
-projeção do valor da taxa de juros em dólar da BM&F (Bolsa de
Mercadorias & Futuros).
Na sexta, o FRA -Forward Rate Agreement, que melhor mede o
cupom cambial- de janeiro fechou com taxa de 54% ao ano na
BM&F. Se o BC quisesse, na sexta-feira, colocar no mercado papéis cambiais que vencem em janeiro (para substituir títulos que
estivessem vencendo), teria de se
dispor a pagar taxas nesse nível.
Queda-de-braço
Amanhã, como em todo último
dia útil do mês, também deverá
haver uma disputa no mercado
futuro de câmbio entre os "vendidos" (que se beneficiam com a
queda do dólar) e os "comprados" (que apostam na valorização). Cada um tentará adequar a
cotação a seu interesse. A previsão
é que os vendidos prevaleçam sobre os comprados, ou seja, que a
pressão maior seja para o câmbio
se valorizar.
O estresse do mercado não deverá acabar nesta segunda-feira.
Nos próximos dias, outros fatores
poderão influenciar negativamente a cotação do dólar em outubro, como a pesquisa de intenção de voto do Ibope na terça-feira e o vencimento, ao longo do
mês, de lotes de dívida pública e
privada em dólar.
O mercado está particularmente temeroso em relação à dívida
pública cambial que vence no dia
17 de outubro, no valor de US$
3,62 bilhões. O lote é grande, e o
novo presidente da República já
poderá estar eleito.
Não há consenso entre os analistas sobre como a cotação do dólar reagirá se Lula for eleito já no
primeiro turno. Parte acha que o
mercado deve se acalmar um
pouco, pois os preços tendem a
antecipar a vitória. Outros prevêem mais turbulência.
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