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ANÁLISE / ECONOMIA AMERICANA
O'Neill discorda, mas déficit preocupa
DO "FINANCIAL TIMES"
Pergunte à maioria dos
economistas sérios e eles admitirão que se sentem bastante
inseguros com relação ao crescente desequilíbrio nas contas comerciais dos países riscos. Paul
O'Neill, o secretário do Tesouro
dos Estados Unidos, discorda. Ele
não consegue entender a preocupação quanto ao imenso déficit
comercial norte-americano.
"Creio que esse seja um conceito
completamente vazio", disse.
Não se pode criticar o raciocínio
de O'Neill, de um determinado
ponto de vista. O déficit em conta
corrente é apenas um conceito
contábil, o qual, por definição, deveria se equiparar ao influxo líquido de capitais estrangeiros.
De acordo com O'Neill, esses influxos explicam tudo. O déficit em
conta corrente dos EUA está acima de 4% do PIB (Produto Interno Bruto), o país absorve 6% da
poupança bruta mundial e mais
de 70% dos fluxos mundiais de
poupança não-doméstica. Para o
secretário, isso demonstra, simplesmente, o quanto é atraente
para os estrangeiros investir nos
Estados Unidos.
Desequilíbrio crescente
Mas esse tipo de raciocínio representa o triunfo de uma confiança injustificada sobre os fatos;
não consegue explicar por que o
déficit nas transações com os outros países cresceu nos anos 90, se
ele é ou não sustentável e de que
maneira ele poderia ser reduzido.
Felizmente, o FMI (Fundo Monetário Internacional) publicou
uma valiosa contribuição para o
debate, na semana passada. O estudo conclui que os desequilíbrios nas contas correntes mundiais importam, que seu nível
atual não tem grande probabilidade de sustentação e que o mundo deveria se preocupar em corrigi-lo rapidamente.
Comparando os movimentos
relativos da poupança e do investimento em diversos países nos
anos 90, o estudo do FMI demonstra que o crescimento no
déficit em conta corrente dos
EUA foi conduzido inicialmente
por um aumento no investimento
privado em ativos norte-americanos. Mas, desde 1999, a expansão
reflete um consumo mais alto e
índices mais baixos de poupança
privada relativa.
Futuro incerto
O rápido crescimento dos EUA
e as expectativas otimistas de lucratividade futura nos investimentos conduziram a influxos de
capital estrangeiro, a uma alta do
dólar e a um déficit crescente. Infelizmente, é pouco provável que
todas essas tendências perdurem.
Primeiro, sabemos agora que o
investimento associado à revolução tecnológica não estava nem
perto da lucratividade que lhe era
atribuída, o que lança dúvidas sobre o futuro nível de investimento
nos Estados Unidos e, consequentemente, sobre a cobertura
do déficit. Segundo, por volta de
2007, o passivo norte-americano
com relação ao resto do mundo
atingiria a marca sem precedentes
de 40% do PIB. Terceiro, a história demonstra que déficits muito
altos em geral não são sustentáveis por muito tempo.
Cenário desagradável
A eliminação do déficit em conta corrente pode ser longa e benigna. Se a demanda doméstica
crescer rapidamente, especialmente na Europa e no Japão, a
produção mundial pode se expandir à medida que o desequilíbrio se reduz.
O problema é que o cenário alternativo, de uma correção desagradável, parece mais provável.
Esse cenário envolve menos crescimento econômico nos Estados
Unidos, que causaria queda no
consumo. Haveria uma queda nas
importações e uma desvalorização do dólar, o que exportaria
parte do sofrimento para a Europa e para o Japão.
Tradução de Paulo Migliacci
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