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ÁGUIA BOMBARDEADA
Bancos e analistas vêem a maior economia do planeta desguarnecida e sob incertezas da guerra
Fantasma da recessão volta a rondar os EUA
ROBERTO DIAS
DE NOVA YORK
Apenas um ano e meio depois
de espantar sua última recessão, a
economia americana vê o fantasma dobrar a esquina de novo.
Pior que isso, o fantasma está
mais forte desta vez, enquanto a
maior economia do mundo o espera bem menos guarnecida, com
problemas maiores em seus fundamentais e sob as incertezas de
uma guerra. Por isso, nos EUA, a
bolsa de apostas do tombo já está
em funcionamento.
Enquanto a média do mercado
põe hoje a probabilidade de recessão entre 10% e 20%, o banco
Merrill Lynch coloca-a em 50%,
"baseado em uma desagradável
combinação de preços crescentes
de energia e crescimento decrescente da massa salarial", segundo
seu estrategista-chefe para os
EUA, Richard Bernstein.
Ele não está sozinho em seu pessimismo. Para a consultoria Economy.com, a chance é de uma em
três. Na última semana, a agência
de classificação de risco Moody's
mandou o seguinte texto a seus
clientes: "Neste momento, os riscos negativos para a economia
americana aparentam exceder
seu maior potencial".
O banco Goldman Sachs mostrou no termômetro sua percepção: "Nosso índice de surpresas,
uma média de surpresas nos principais indicadores, caiu para um
recorde negativo, em nível equivalente ao do final de 2000 e início
de 2001, justamente o começo da
[última" recessão. Isso é importante porque ele tem sido recorrentemente um bom indicador do
crescimento do PIB".
A versão online do "Wall Street
Journal" mantém uma pesquisa
mensal com 55 economistas espalhados pelos EUA. A média de
suas previsões para o crescimento
do PIB neste trimestre despencou
desde o início do ano -de 2,7%
para 2%, isso no início do mês,
antes do começo da guerra.
Desde então, a tormenta só ganhou força, e a última semana foi
pródiga em resultados ruins em
indicadores de campos considerados termômetros importantes
da atividade econômica.
O principal deles, apontam analistas, é o campo que analisa o
comportamento do consumidor.
"Eles sustentaram a economia
nos últimos anos. Se ficarem muito preocupados com a guerra, aí
poderemos ter recessão", explica
Gus Faucher, economista-sênior
da Economy.com.
Anteontem, a Universidade de
Michigan apontou que o índice de
sentimento do consumidor caiu
ao nível mais baixo desde setembro de 1993. Outro número correlato, do Conference Board, mede
a confiança do consumidor e
também bateu seu recorde negativo de dez anos.
Há economistas que desconfiam dos dois índices, sob o argumento de "uma coisa é o que consumidor diz, outra é o que faz".
Pois anteontem, para completar o
ciclo de más notícias, o Departamento de Comércio divulgou que
os gastos dos consumidores nos
dois primeiros meses deste ano
bateram o recorde negativo dos
últimos 16 anos.
Não é o único índice a ir mal. "A
renda real disponível caiu 0,2%
em fevereiro, primeiro declínio
desde junho. Isso se encaixa na tese de que os fundamentos do consumo continuam a se deteriorar",
diz David Rosenberg, economista-chefe da Merrill Lynch na
América do Norte.
Outro dado importante, o que
mostra a venda de imóveis nos
EUA, também desta semana, caiu
para o nível mais baixo desde
agosto de 2000, pouco antes da última recessão.
De agora em diante, apontam
analistas, a guerra, caso o Exército
de Saddam Hussein não continue
a surpreender, poderá no máximo amenizar a situação.
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