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ATAQUE DO IMPÉRIO
MERCADO NA TRINCHEIRA
Turismo e aéreas são os mais atingidos pela guerra; American Airlines pode pedir concordata
Petróleo valorizado empurra as ações de empresas de energia
ALESSANDRA MILANEZ
DA REPORTAGEM LOCAL
O setor de energia dos Estados
Unidos é o que mais está ganhando com a guerra. Essa é a avaliação de Michael Sheldon, estrategista-chefe da consultoria americana Spencer Clarke.
Do dia 21 de março até a sexta-feira passada, das dez empresas
que tiveram maior valorização no
índice Standard & Poor's 500, que
reúne as 500 principais empresas
americanas, quatro -El Paso,
Calpine, Dynegy e Allegheny
Energy- são do setor.
Fernando Ferreira, sócio-diretor da consultoria Global Invest,
adverte, no entanto, que o setor
de energia está muito vulnerável,
porque falta investimento. "Acho
que é um investimento interessante no momento, mas não é isso
que vai fazer a economia andar."
Para Sheldon, enquanto o preço
do barril de petróleo não cair para
algo entre US$ 20 e US$ 25, o setor
de energia vai continuar atraindo
investidores.
"A percepção do mercado era
que, quando a guerra no Iraque
estourasse, os preços do petróleo
cairiam significativamente", afirma o analista. "No entanto, os fatos são bem diferentes. O barril
chegou a ser cotado abaixo de
US$ 30, mas agora voltou a ficar
num patamar superior, o que faz
os investidores voltarem seus
olhos para o setor novamente."
Os papéis que mais se valorizaram no período, no entanto, foram de uma empresa do setor de
seguros de saúde: a Unum Providence Corp (38,4%).
Sheldon diz que essa é outra
área que não deve ser muito abalada pelo conflito no Iraque. "Os
ganhos das companhias de seguros são menos dependentes do
crescimento da economia, e a tendência de gastos com seguros de
saúde tem sido muito positiva nos
últimos anos", diz Sheldon.
Quem perde
Entre os setores que mais viram
seus papéis se desvalorizarem no
índice S&P, dois se destacam:
companhias aéreas, que tiveram
desvalorização de 8,52%, e o setor
de turismo, cujos papéis perderam 8,13% de seu valor.
De acordo com Sheldon, as
perspectivas para as companhias
aéreas, que já não eram boas, se
agravaram ainda mais.
"É possível que a maior companhia aérea dos Estados Unidos [a
American Airlines" peça concordata na próxima semana", afirma
o analista. "Essa seria a quarta
companhia aérea a pedir concordata nos últimos anos. O setor já
vinha com dificuldades, que só foram agravadas agora."
Ferreira ressalta que, nos Estados Unidos, a variação no mercado de ações é muito mais determinada pelos resultados que a empresa divulga do que pelas ações
do governo em relação à política
monetária. "Se a empresa divulga
que o lucro para os próximos meses vai ser 20% menor, o investidor derruba o preço da ação em
20% no dia seguinte. O investidor
quer manter a relação preço-lucro."
Indústria bélica
No dia seguinte ao discurso do
presidente americano, George W.
Bush, no dia 18 deste mês, em que
deu ao ditador iraquiano Saddam
Hussein 48 horas para deixar o
país, as ações do setor de defesa e
aeroespacial tiveram leve alta
(0,8%). Nas duas últimas semanas, os papéis do setor se valorizaram em 3,1%.
Sheldon diz, no entanto, que as
ações da indústria de armamentos tiveram seu pico de alta em julho de 2002. "Elas tiveram uma alta nas últimas semanas, mas, em
relação há um ano, apresentaram
queda."
Para Ferreira, o pós-guerra só
deve trazer crescimento para a
economia mundial se o preço do
petróleo cair.
"Sou absolutamente reticente
em aceitar essas teorias de crescimento com gastos na indústria de
armamentos. Essa é uma tese antiga", afirmou o economista. "Em
épocas de grandes guerras, em
que está todo mundo investindo
em armamentos, é óbvio que tem
efeitos, mas não numa guerra
pontual como essa."
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