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Nova agenda do Brasil exigirá acordos bilaterais
IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A frustração de um acordo na
Rodada Doha da OMC vai impor ao Brasil a necessidade e o
desafio de ampliar a rede de
acordos de livre comércio com
outros países, a começar pelos
EUA, reeditando uma espécie
de nova Alca (Área de Livre Comércio das Américas), inviabilizada justamente pelo Itamaraty no início do governo Lula.
A decisão de negociar um
acordo de livre comércio com
os Estados Unidos já foi tomada pelo Brasil. Na prática, significa uma "nova Alca" porque os
americanos já têm tratados semelhantes com Chile, Peru,
Colômbia e países da América
Central. Faltam Mercosul,
Equador e Venezuela.
Não bastassem as dificuldades de obter concessões da
maior economia do planeta, caberá aos negociadores brasileiros convencer os sócios do
Mercosul, atualmente Argentina, Paraguai, Uruguai e em breve também Venezuela, de que
os novos acordos trarão mais
benefícios que prejuízos.
Não vai ser fácil nem rápido.
Autoridades venezuelanas já
adiantaram que não aceitam
sequer negociar com os EUA.
Pelas regras atuais, é preciso
haver consenso entre todos os
países do Mercosul para assinar um acordo de livre comércio. Foi assim com Israel, que
no início do ano encerrou as
negociações e firmou o tratado.
O texto não está em vigor.
Como a tarefa precisa começar pela vizinhança, o caminho
é ainda mais delicado. Especialistas ouvidos pela Folha são
unânimes em criticar o Mercosul e apontar deficiências no
formato de negociações do bloco que dificultam consenso interno e tornam quase impossível a assinatura com outros
países. O maior problema seria
a enorme diferença de porte
das economias do bloco.
O Brasil se prepara para negociar acordos com Estados
Unidos, México, Índia, Turquia
e Rússia. Também há interesse
em blocos como a União Européia e o Conselho de Cooperação do Golfo (Arábia Saudita,
Bahrein, Qatar, Emirados Árabes, Omã e Kuait).
Estratégias
Quando a Rodada Doha foi
lançada, em novembro de 2001,
ainda sob o impacto dos atentados de 11 de Setembro, a diplomacia brasileira apostou todas
as fichas na negociação multilateral na OMC. Os EUA optaram
por negociar acordos bilaterais,
o que chegou a irritar o Brasil
quando as conversas com o
Uruguai avançaram. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva
precisou agir pessoalmente para convencer os uruguaios a
continuar no Mercosul.
"A estratégia do governo brasileiro de ficar só concentrado
em Doha foi um grande equívoco. Temos que discutir uma nova estratégia", disse o ex-embaixador Rubens Barbosa. Segundo o ex-diplomata, "vai ser
muito difícil negociar com os
americanos, porque eles não
vão querer apenas livre comércio, vão voltar com as exigências feitas na Alca, na área de
propriedade intelectual, concorrência e investimentos".
Na contramão, o professor de
relações internacionais da Universidade de Brasília Virgílio
Arraes acredita que essas assimetrias no Mercosul podem favorecer o Brasil. "Não seria um
problema tão complicado negociar com os EUA porque, em
termos de indústria sofisticada,
só temos o Brasil no Mercosul."
Para o presidente da Sobeet
(Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais), Luis Afonso Lima, o Mercosul precisa "construir uma
aliança que seja benéfica para
todos os membros".
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