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ANÁLISE
Asiáticos podem deixar de ser emergentes
FRANCESCO GUERRERA
DO "FINANCIAL TIMES"
Como você se sentiria se parte do dinheiro de seu fundo
de pensão fosse investido em
ações domésticas da Coréia do
Sul, de Taiwan e da China?
As pessoas com maior espírito
de aventura provavelmente gostarão da idéia de suas economias
guardadas para a aposentadoria
estarem sendo direcionadas a alguns dos cantos da Ásia que oferecem maiores recompensas e
maiores riscos.
No entanto, para os futuros
aposentados mais pacatos, não
parece uma boa idéia investir o
dinheiro de suas pensões em mercados que se comportam como
montanhas-russas, nos quais falta
transparência, a qualidade das
empresas é desigual e existe uma
tendência a reagir com exagero às
boas e más notícias.
O problema é real, porque a
FTSE International, agência de
compilação de índices controlada
conjuntamente pelo jornal "Financial Times" e pela Bolsa de
Valores de Londres, está propondo promover Coréia do Sul e Taiwan à categoria "mercados desenvolvidos", o que os colocaria na
mesma posição do Reino Unido e
dos Estados Unidos. A empresa
também está consultando os investidores quanto a começar a incluir as ações "A" das Bolsas de
Xangai e Shenzen em seus índices
de mercados emergentes.
A razão para que essas decisões
da FTSE International sejam mais
que uma simples questão burocrática de classificação é o fato de
que os índices básicos são acompanhados ponto a ponto pelos administradores de fundos que dispõem de quantias substanciais
para investir.
Se a FTSE International promover os dois países, Coréia do Sul e
Taiwan, da classificação "mercados emergentes" para "mercados
desenvolvidos", os muitos administradores de fundos que, no
momento atual, estão impedidos
de investir nesses mercados por
causa das regras de suas instituições seriam compelidos a comprar ações neles.
E, se a MSCI, a agência de compilação de índices mais acompanhada pelos investidores dos Estados Unidos, decidir seguir o
exemplo da FTSE, o dinheiro dos
fundos de investimento norte-americanos também seguiria o
mesmo caminho.
Evidentemente, isso seria uma
ótima notícia para a Coréia do Sul
e para Taiwan. Com a maior parte
dos grandes investidores internacionais acompanhando passivamente os índices, por medo de
apresentar desempenho inferior
ao de seus rivais, Seul e Taipé (as
capitais dos dois países, respectivamente) teriam de encarar aquilo que Chris Lobello, da CLSA,
classifica como "uma muralha de
pressão de compra".
Precedente
De acordo com a CLSA, quando
a Grécia foi incluída no exclusivo
clube dos mercados desenvolvidos, em janeiro de 2001, o giro em
suas Bolsas aumentou quase quatro vezes e se manteve em nível
elevado desde então.
Nem todo esse giro surge na
ponta da compra, mas não existe
dúvida de que a Bolsa de Valores
de Atenas agora tem liquidez
muito superior a qualquer momento de seu passado.
É certo que qualquer mudança
no índice FTSE com relação aos
dois países, Coréia do Sul e Taiwan, não entraria em vigor antes
de 2005 e demoraria ainda mais
no caso da China, mas esse não é
considerado um prazo longo em
termos de fundos de pensão.
A questão é determinar se Coréia do Sul e Taiwan de fato merecem ser consideradas mercados
desenvolvidos.
Em termos absolutos, a resposta
é não. Esses mercados são mais
voláteis e, portanto, menos "seguros" do que os mercados desenvolvidos. Ao longo dos últimos
dez anos, o índice FTSE Korea variou de 19 a 104 pontos, um diferencial muito maior do que o registrado, digamos, pelo FTSE All-Share, no Reino Unido, ou mesmo por um mercado asiático desenvolvido, como aponta o índice
Hang Seng, de Hong Kong.
Além disso, os padrões de governança corporativa da empresa
média que tem suas ações cotadas
na Bolsa, nesses mercados, ainda
deixam muito a desejar.
A paisagem empresarial tanto
na Coréia do Sul quanto em Taiwan é notória por participações
acionárias cruzadas, controle familiar sobre as empresas e pouca
consideração com os investidores
minoritários.
Para tratar de um argumento
inevitável mencionado pelos entusiastas da Ásia, afirmo que estou ciente dos escândalos de governança corporativa nos Estados
Unidos e na Europa. Mesmo assim, seria necessária muita coragem para afirmar que lambança
semelhante nunca ocorreu nas
costas asiáticas.
A Samsung Electronics, menina
dos olhos do capitalismo sul-coreano, é um perfeito exemplo daquilo que os investidores internacionais realmente pensam sobre a
governança corporativa na Coréia
do Sul.
Por que essa empresa muito lucrativa, inovadora e bem administrada tem suas ações negociadas por uma relação preço/lucro
de apenas 11? Será que os investidores temem que ela possa ser
usada como fonte de recursos para as partes menos lucrativas do
imenso conglomerado Samsung?
Taiwan, além disso, tem o problema da falta de diversificação. Boa
parte das fortunas do mercado está ligada ao setor de tecnologia,
uma escolha de investimento que
não é recomendável para viúvas,
órfãos e futuros pensionistas.
O que pode salvar os dois países
é o fato de que as listas de mercados desenvolvidos da FTSE e da
MSCI não são exatamente "galerias da fama". No momento em
que Grécia, Canadá e Portugal são
considerados mercados desenvolvidos, fica difícil justificar a exclusão de Seul e Taipé.
Se a beleza de um mercado está
nos olhos de quem o vê, os administradores de fundos de investimentos e os futuros aposentados
não perdem por manter os olhos
abertos. Não fazê-lo poderia conduzir o dinheiro deles a alguns lugares muito exóticos.
Tradução de Paulo Migliacci
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