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ANÁLISE
Pensar é preciso
PASQUALE CIPRO NETO
COLUNISTA DA FOLHA
Munido da informação de que
português é a matéria que mais
reprova os candidatos a uma vaga no serviço público, você resolve
priorizar essa disciplina e começa
a decorar todas as listas possíveis:
femininos, aumentativos, diminutivos, coletivos, superlativos,
plurais exóticos etc.
Não é esse o caminho, já que
(pelo menos nos concursos federais) não se tem exigido a (inútil)
decoreba de listas. Quer-se saber
se o candidato compreende o que
lê, o que exige vocabulário, raciocínio lógico, domínio dos mecanismos estruturais de um texto,
conhecimento das normas de regência, concordância etc. Exige-se
também o conhecimento básico
da nomenclatura gramatical.
Já vai tarde (espero!) o tempo
em que se pedia o feminino de
"peixe-boi" (concurso para a seleção de oficial de Justiça, em São
Paulo) ou o coletivo de cobras
(prova de uma das corporações
militares, também em São Paulo). Que se mede com esse tipo de
pergunta? Nada de nada.
A ordem, pois, é aprender a
aprender, aprender a estudar e,
sobretudo, aprender a pensar.
Tomemos como exemplo o concurso de 2003 para a seleção de
auditor fiscal do Ministério do
Trabalho e Emprego, organizado
pela Esaf (Escola de Administração Fazendária). Depois de ler
um trecho (adaptado) de uma revista semanal, o candidato tinha
de analisar quatro "possibilidades de continuidade para o texto". As palavras iniciais dessas
quatro possibilidades eram, respectivamente, "por isso", "com isso", "assim" e "no entanto".
Fica mais do que claro o que
quer a banca: avaliar o conhecimento das noções de coesão e coerência textual e, por conseguinte,
do emprego dos elementos lingüísticos que estabelecem adequadamente essas relações.
Quando se emprega "por isso",
por exemplo, estabelece-se nexo
de conclusão ou de causa e efeito;
o que se afirma a seguir é deduzido ou é decorrência do que se afirmou antes. Quando se emprega
"no entanto", estabelece-se nexo
de oposição, de adversidade; o
que se afirma a seguir contradiz o
que se afirmou antes.
A resposta correta a uma questão como essa (que aparece em
outros concursos, como o de 2002
para a seleção de técnico da Receita Federal, também da Esaf)
depende da leitura atenta do texto e da correta relação entre o que
nele se diz e o que se afirma em
cada uma das possíveis continuidades. Para isso, pensar é mais do
que preciso; é imperativo. É isso.
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