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Solidão e jornada longa são desafios da carreira
DA REPORTAGEM LOCAL
"Trabalhar em navio dá dinheiro, mas havia dias em que eu me
sentia tão só que pensava em jogar os maços de dólares no mar."
A frase de Susi Hélen, 19, resume bem um grande obstáculo para quem assume uma posição em
navio de cruzeiro: a solidão.
Estudante de turismo, Hélen foi
garçonete em um navio norte-americano durante 18 meses. Trabalhava 16 horas diárias. "Queria
dinheiro para pagar a faculdade.
Quando cansava, fechava os olhos
e pensava no diploma."
Alojados em cabines pequenas,
compartilhadas com pessoas das
mais diferentes origens, os tripulantes nem sempre conseguem
controlar as marés emocionais, e
muitos acabam voltando à terra.
"Cerca de 20% dos contratados
brasileiros desistem da jornada
antes de completar o contrato",
diz Marcelo Toledo, da MBrazil.
Heroísmo
Na opinião do psicólogo especializado em saúde mental no trabalho, Waldir Bíscaro, 68, a carreira em navios "é coisa para heróis". "Viver na solidão requer
treinamento prévio. É uma capacidade acima dos padrões medianos de comportamento."
Para José Evaristo Dias, 30, a
distância de casa doeu mais no
primeiro dos seis meses que passou no mar. Depois, a vontade de
melhorar o inglês e a oportunidade de conhecer parques temáticos
no exterior serviram de motivação para permanecer a bordo.
Dias trabalhou como "galley
steward", uma espécie de ajudante de cozinha. "Na verdade eu era
um "faz-tudo", ajudava na cozinha, lavava a louça, varria o
chão", conta. Para conseguir o
posto, foi submetido a uma rígida
bateria de testes, que incluiu exames antidoping e teste de HIV.
A jornada era de 11 horas diárias. "Como o fixo era de US$ 500,
depois que eu saía da cozinha, trabalhava de ajudante de camareiro. Chegava aos US$ 1.200."
O excesso de trabalho e as poucas horas de sono resultaram em
seis quilos a menos. "Saí do Brasil
pesando 71 kg e voltei com 65 kg."
Já o estudante de turismo Rodrigo Rocha da Silva, 23, trabalhou como garçom e chegou a enfrentar uma tormenta rumo à Argentina. "As ondas tinham 15 metros, e morri de medo", conta.
"Mas o dinheiro compensa tudo."
Mesmo sabendo da rotina árdua em alto-mar, a professora de
educação física Gisele Carolina de
Azevedo, 26, afirma que atuar em
um navio é o trabalho ideal para o
seu perfil e vem se preparando para tentar uma posição.
"Estou aperfeiçoando o inglês.
Meu sonho é ter contato com pessoas de diferentes culturas."
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