São Paulo, domingo, 12 de janeiro de 2003

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Desempregados sofrem ainda mais na crise

FLÁVIA MARREIRO
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Se as incertezas de 2002 atingiram o mundo dos "headhunters", envolveram ainda mais de perto a sua "caça", ou seja, os profissionais -sobretudo os que estão atualmente fora do mercado.
Bons nomes que contabilizavam sucesso na carreira a partir dos inúmeros telefonemas recebidos dos caçadores de talento passaram a fazer o movimento inverso: correr atrás dos "hunters".
"Eles localizam muito mais facilmente quem está num emprego", diz Paulo de Sousa, 41, gerente-geral da Intertelhas, que recebeu um telefonema de um "headhunter" quando estava empregado. Ao perder a vaga, foi em busca dos profissionais: foram mais de 30 nomes até o emprego atual, que aceitou por um salário mais baixo, por conta da crise.
Fábio Pereira, 28, da consultoria Michael Page, atribui o fenômeno a um "preconceito do mercado". "Acredita-se ser melhor profissional quem conseguiu garantir o emprego", explica Pereira.
Mas para Winston Pegler, 57, presidente da Ray & Berndtson do Brasil, o fenômeno é natural: "Vem dos próprios clientes essa solicitação de maior cuidado com quem está desempregado, que passa por uma avaliação ainda mais rigorosa até ser escolhido".
O conselho dos consultores para os que estão sem emprego é que busquem o "caderninho" pessoal de telefones. Mas lembram: é preciso ter bom senso, não ser inconveniente nem demonstrar ansiedade demais.

Perfil procurado
Empregado ou à procura de colocação, é possível fazer uma radiografia das oportunidades para executivos em 2002? Há um perfil procurado nos períodos de crise?
Não há números precisos para a análise. Pelo exemplo da consultoria Towsend, a área que mais procurou preencher vaga ou substituir posições foi a industrial -1.056 processos de contratação para cargos de gerência a altos executivos no ano passado.
"Profissionais da área financeira são mais procurados", afirma Márcio Miranda, 33, diretor de "headhunters" da Towsend. Segundo ele, profissionais para funções mais especializadas sofrem menos com a crise.
Adelaide Du Plessis, da DPS Consult, concorda: "Trabalhamos muito mais posições da área financeira no ano passado".
Já Fatima Zorzato, da Russell Reynolds, discorda da análise. Apesar de detectar esse movimento no mercado, ela defende que é cada vez maior o número de empresas que não segue o princípio mais comum de contratar pessoas para a área financeira ou especializadas em corte de gastos.
"As empresas já avaliam que, mais do que a função, precisam de pessoas inovadoras e com faro para detectar oportunidades."
Pegler alinha-se à posição de Zorzato: "Nós tínhamos um cargo de presidente para preencher, e a empresa queria alguém com visão financeira. Fizemos com que enxergassem que precisavam de alguém para perceber as oportunidades de expansão que estavam perdendo", diz o consultor.



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