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"PEGADINHA" PROFISSIONAL
Consultores contestam a utilidade das "brincadeiras"
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Perguntas com jeito de brincadeira podem servir para medir raciocínio, lógica aplicada, capacidade de adaptação, agilidade? Para muitos consultores de recursos
humanos, não. Eles resumem a
sua ideologia em uma frase: "Pegadinhas não provam nada, são
só piadas de mau gosto".
O CEO ("chief executive officer", principal executivo) da Curriculum, Marcelo Abrileri, identifica duas correntes que divergem
sobre o tema. "Há os psicólogos
que inovam e colocam as pessoas
à prova de diferentes maneiras,
criando "pegadinhas", e há os que
focam o processo na entrevista,
na relação com o entrevistador."
O diretor do portal Jobshopping
(www.jobshopping.com.br)
Alessandro Cordeiro faz uma
analogia: "Um experto em palavras-cruzadas pode obter sucesso
em "pegadinhas", independentemente de sua formação". Ou seja,
não seria um método seguro.
Do lado dos defensores, os benefícios apontados são afunilar
rapidamente os processos seletivos e mostrar a "verdadeira face"
dos candidatos ao emprego.
"Não queremos gente que decore jornal e revista, que "force" a entrevista respondendo aquilo que o
selecionador quer ouvir", rebate a
consultora Adriana Andrade, da
Adecco. Segundo ela, ao surpreender os candidatos na seleção, seria possível descobrir reais
traços de suas personalidades.
"Pode até ser interessante, mas
só se tiver peso limitado na análise
global", contesta a psicóloga Patrícia Parron, do Nube (Núcleo
Brasileiro de Estágios). "É melhor
passar um tempo maior com o
candidato para conhecê-lo do que
usar uma "pegadinha"."
"Válidas, porém questionáveis"
é como a consultora de recursos
humanos Carla Fabiana dos Santos, do Grupo Catho, caracteriza
as charadas nas seleções. "A empresa corre o risco de descartar
bons candidatos ou de procurar
por competências que não serão
importantes para o cargo", diz.
Se a "pegadinha" não for etapa
decisiva na contratação, é defendida pelo diretor da Towsend,
Márcio Miranda. "É um momento lúdico na entrevista, relaxa o
candidato e nos dá mais "pistas"
sobre como ele se comportaria no
ambiente profissional."
"Efeito funil"
Quando há um grande contingente de candidatos para um universo reduzido de vagas -fato
comum no Brasil-, as "pegadinhas" viram recurso comum para
afunilar o processo.
Foi assim com o estudante Marcelo de Souza, 18, que cursa nível
técnico em administração. Aos 16
anos, ele entrou no primeiro emprego passando por uma prova
simples, mas na qual 90% dos
candidatos foram reprovados.
A tarefa era ler um texto em tópicos, cujo primeiro mandamento dizia "leia até o final antes de
começar". No meio da folha havia
várias ordens do tipo "conte até
dez em voz alta" ou "grite o próprio nome", mas, no fim do texto,
o último tópico dizia para não seguir nenhuma das instruções dadas até então, mas apenas a primeira e a última.
Como a primeira "missão" era
ler até o fim sem fazer nada, dava-se melhor o candidato que ficava
quietinho o tempo todo.
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