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ORIENTE NO TRABALHO
Profissional é visto como analítico e reservado
Perfil preconcebido de descendente de japoneses pesa a favor ou contra
CÁSSIO AOQUI
EDITOR-ASSISTENTE DE EMPREGOS E CARREIRAS
Já existem no Brasil descendentes de imigrantes japoneses
de sexta geração -os chamados
"rokuseis"-, bem distantes da
cultura ancestral nipônica.
Ainda assim, por bem ou por
mal, a imagem dos chamados
nikkeis no mercado de trabalho
é exemplo de marca registrada.
Impera, nesse caso, o perfil
de profissional analítico, tecnicista e de pouca conversa.
"Não se trata de uma percepção da área de recursos humanos. É uma questão cultural,
parte verdade, parte carimbo",
afirma a presidente da ABRH-SP (Associação Brasileira de
Recursos Humanos, seccional
São Paulo), Elaine Saad.
A descrição dos nikkeis no
ambiente de trabalho quase
sempre resvala em pessoas
mais fechadas, bastante capazes individualmente, perspicazes, inteligentes, pouco conflituosas, tímidas e contidas.
Muitas vezes, esse perfil se
mostra uma vantagem competitiva para os candidatos de ascendência oriental. Foi o que
aconteceu com o personal trainer Rodrigo Fabri, 28, que é
mestiço e neto de japoneses.
"O entrevistador do meu
atual emprego, em uma academia, disse que me contrataria
porque acredita que os japoneses são mais comprometidos e
responsáveis no trabalho", diz.
O fator que lhe rendeu pontos, porém, não consta necessariamente do que destacaria entre seus maiores atributos.
"Sou muito pouco japonês. Fui
criado com a cultura italiana."
Cada um na sua
Outro fato que é realidade no
meio profissional é a alocação
dos nikkeis de forma concentrada por área de atuação.
"Levam vantagem em áreas
industriais e técnicas, como finanças, contabilidade e tecnologia. Já em setores como vendas, marketing e recursos humanos, estão em clara desvantagem", observa o consultor
Renato Yukio Nishimura.
"Mas essa distinção é mais
pelo estereótipo do que pela
competência em si", avalia.
Na fábrica japonesa de zíperes YKK, 50% da força de trabalho é composta de nikkeis ou
expatriados vindos do Japão.
"Em criação e marketing, eles
são poucos", atesta Fabíola
Rosa, do setor de marketing.
Muitos que "ousam" enveredar por áreas não técnicas costumam encontrar obstáculos.
Marcelo Miyashita, 36, consultor da Miyashita Consulting,
diz ter enfrentado preconceito
no início de sua carreira.
"Quando decidi estudar propaganda, ouvi muito frases como
"você é japonês, tem de fazer
engenharia no ITA [Instituto
Tecnológico da Aeronáutica]"."
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