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Salário baixo e tarefas sem relação com a futura profissão ameaçam os acomodados
Estágio ruim exige reação
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Nem todo mundo consegue ter o primeiro emprego em uma multinacional ou em uma companhia reconhecida, com salário alto e muitas regalias.
Um problema comum num estágio fraco é a empresa utilizar o
universitário como mão-de-obra
barata, mas qualificada. Outro
ponto é trabalhar numa área que
não tenha relação com a formação do futuro profissional.
Consultores dizem que uma
má experiência pode ser também
resultado de falta de perseverança
do estudante, caso ele mantenha
uma posição conformista diante
dos problemas encontrados (veja
quadro ao lado).
Para conseguir o primeiro estágio, os estudantes aceitam trabalhar até de graça, principalmente
se ele for uma etapa obrigatória
para a obtenção do diploma.
O estudante de desenho industrial Fábio Freitas, 23, fez um estágio na área de marketing em uma
empresa de embalagens de vidro.
Durante o programa, Freitas
preenchia fichas e fazia contato
com clientes e fornecedores. "De
criação, que é a minha área, não
tinha muita coisa", afirma.
Além do trabalho burocrático, o
estudante diz ter sofrido assédio
moral. Ele conta que a chefe implicava com qualquer coisa. Como exemplo, cita o dia em que foi
repreendido por estar arrumando
os ícones do computador.
Mesmo com a pressão diária da
superiora que, em tese, deveria
orientá-lo, Freitas pensou muitas
vezes antes de pedir demissão,
pois era bem remunerado.
O estudante diz que não teve
dificuldades para conseguir outra
oportunidade. Segundo ele, chegou a recusar ofertas de grandes
empresas por não serem da sua
área de atuação. Atualmente,
declara-se satisfeito com um estágio que faz na área de criação de
uma empresa de design gráfico.
Ofertas duvidosas
Só a Universidade Mackenzie,
onde Freitas estuda, recebeu mais
de 10 mil ofertas de estágio em
2001. Cerca de 70% delas seriam
de trabalhos que utilizam o aluno
como mão-de-obra barata, estima o analista de RH da universidade, Cássio Nascimento Silva.
A coordenadora de estágios da
Eaesp-FGV, Christina Dias Leite,
observa que os alunos que tiveram uma experiência ruim com
empresas se tornaram mais perspicazes na negociação.
Estudantes ouvidos pela Folha
disseram que estágios ruins ajudaram no amadurecimento e os
deixaram mais bem preparados
para escolher onde trabalhar.
A.A.C., 23, estudante de administração da Eaesp-FGV, concorda. Ela passou por duas situações
negativas, uma delas na área pública, mas afirma que não se arrepende. "Faria tudo de novo."
Em uma de suas experiências,
na Prefeitura de São Paulo, não
ganhava bolsa-auxílio. Na área
pública, diz, quem é concursado
deixa tudo na mão do estagiário.
Em um estágio anterior, numa
consultoria privada, A. era remunerada. Em compensação, nem
sequer tinha nome. Os colegas a
chamavam de "estagiária", e suas
idéias e seus projetos eram barrados pelo chefe, que a sobrecarregava com serviços administrativos. (FABIANA CIMIERI)
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