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DISSONÂNCIA
Para Oliver Roy, a Europa não aceita a lógica americana sobre o terror
"Não adianta fazer uma guerra"
DE PARIS
O cientista político Oliver Roy é
um dos principais especialistas
franceses em islã político e nas
questões da Ásia Central. Ele está
publicando neste mês dois livros
sobre o 11 de setembro. Um deles,
é "L'Islam Mondialisé" ("O Islã
Mundializado"), em que estuda a
organização político-religiosa do
mundo muçulmano. O outro é
"Les Illusions du 11 Septembre"
("As Ilusões de 11 de Setembro"),
reflexão sobre a atual conjuntura
geopolítica e o novo discurso
americano do "eixo do mal".
Na entrevista a seguir, ele fala
sobre a posição da Europa em relação a esse discurso e afirma que
o continente terá um papel secundário no futuro do mundo.
(ALN)
Folha - Como o sr. avalia o apoio
da Europa à guerra ao terror?
Oliver Roy - É preciso distinguir
dois níveis: a guerra contra o terror propriamente dita e o chamado "eixo do mal". Em relação ao
primeiro, a Europa apóia os EUA.
Mas a idéia do "eixo do mal" não é
bem aceita pelos europeus, porque não há relação lógica entre as
redes terroristas e os Estados tidos
como "eixo do mal".
Folha - O sr. escreve que a Europa
tem uma visão menos dramática
que os EUA sobre o terrorismo. Os
europeus acreditam em negociação com os terroristas?
Roy - Sim, exceto com a Al Qaeda. Sobre o fenômeno Al Qaeda,
há um acordo entre EUA e Europa. O debate passa, porém, pelas
causas do terrorismo. Para a Europa, o terrorismo da Al Qaeda é
sobretudo uma consequência dos
conflitos no Oriente Médio. Então, no quadro da política de erradicação do terrorismo, seria preciso resolver essa crise.
Folha - Os europeus são mais céticos sobre a luta antiterrorista?
Roy - Sim. Ao contrário dos
americanos, os europeus desconfiam da capacidade dos terroristas de construírem uma arma nuclear. E consideram efetivamente
que as crises vão sempre produzir
uma forma de terrorismo -e isso
não é uma razão para mudar de
estratégia, de sistema jurídico etc.
Os europeus pensam que, para
impedir os terroristas de ter armas de destruição em massa, não
adianta fazer uma guerra. É um
problema de informação, de ação
dos comandos antiterroristas. Os
meios de fazer armas perigosas
não estão no Irã, no Iraque, mas
no interior mesmo do espaço ocidental, na Rússia, na Ucrânia...
Folha - O sr. diz que os EUA estão
fazendo uma campanha para sustentar o "bom islã". Por que a Europa não participa dessa campanha?
Ela não acredita no "bom islã"?
Roy - Não. Creio que a Europa
tenha uma aproximação mais social do que religiosa. Além disso,
promover o bom muçulmano é o
mesmo que desacreditá-lo, por
definição. Face aos outros muçulmanos, aquele que foi considerado "bom" será tido como uma
criação dos americanos.
Folha - Os EUA imaginam que
exista solução para o "problema do
islã". Os europeus pensam assim?
Roy - Eles são mais céticos.
Acham que o problema venha a se
resolver pela mudança das gerações, pela integração. Os americanos querem fazer reengenharia
social e propaganda. Eles usam
explicitamente o modelo que usaram contra os soviéticos. Não é
um bom recurso. Não se pode tratar a religião pelo ideológico.
Folha - Os europeus defendem
uma política mais equilibrada no
Oriente Médio a fim de secar as fontes do terror islâmico. Por que eles
não conseguem impor essa política
aos americanos?
Roy - Porque eles não têm meios,
inclusive militares, e também não
têm vontade. A Europa tem uma
força econômica considerável,
mas ela não faz por onde se dar os
meios e não quer se dar os meios
para ser uma grande potência. Os
orçamentos militares estão em
queda na Europa em relação aos
EUA. Temos necessidade dos
americanos em termos de logística, de proteção aérea, de informação etc. No fundo, os europeus
não querem concorrer com os
EUA. Essa é a moral da história.
Folha - Mas eles criticam muito o
unilateralismo americano.
Roy - Sim. É porque acham que
os americanos exageram, que vão
muito longe. Os europeus querem
que os americanos sejam menos
unilaterais, mas não fazem nada
para impedir que sejam.
Folha - A Europa está aceitando
um papel secundário no mundo?
Roy - Sim.
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