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BALANÇO DE GUERRA
Ofensiva militar dos EUA no Afeganistão e
medidas que limitam o financiamento de grupos terroristas abalaram a
Al Qaeda. De acordo com analistas, porém, o grupo de Bin Laden mantém uma rede internacional intacta, capaz de explorar falhas de segurança ainda não corrigidas dentro do território americano
Abalado pelos EUA, terror resiste
MARCELO STAROBINAS
DA REDAÇÃO
Doze meses de ação militar e diplomática não deram aos EUA a
vitória que desejavam na guerra
ao terrorismo. O país ainda tem
um longo caminho a percorrer
para garantir a segurança contra
novos ataques, sobretudo em seu
território. Apesar disso, analistas
consultados pela Folha dizem que
o governo de George W. Bush
promoveu mudanças importantes na forma como o mundo lida
com grupos como a Al Qaeda.
Em primeiro lugar, destaca
John Reppert, general da reserva
dos EUA e professor da Universidade Harvard, "a maioria dos Estados passou da defensiva para
uma postura ofensiva". "Eles não
aguardam mais os ataques terroristas para responder. Pelo contrário, procuram-nos agressivamente antes de agirem. Isso diminuirá as chances de atentados."
Contudo a ofensiva liderada por
Washington no Afeganistão abalou a Al Qaeda, mas ficou longe de
derrotá-la. "A campanha não desmantelou a rede de pessoas já treinadas, que se dispersou pelo
mundo. Essa rede segue intacta",
opina Alex Standish, editor da publicação "Jane"s Intelligence Digest", com sede em Londres.
"Não sabemos muito sobre a Al
Qaeda desde o 11 de setembro
porque ela ficou sob a superfície",
diz Alan Dershowitz, professor da
Harvard Law School. "Saberemos
quando emergirem. Não tenho
dúvidas de que vão ressurgir."
Em seu novo livro, "Why Terrorism Works: Understanding the
Threat, Responding to the Challenge" (Por que o terrorismo funciona: entendendo a ameaça, respondendo ao desafio), Dershowitz descarta a diplomacia como
ferramenta para lidar com a
ameaça terrorista. "Tentar construir pontes [com o mundo islâmico" e entender os terroristas fará com que o terrorismo se espalhe a outros grupos que gostariam
de ser entendidos", argumenta.
Diferentemente de Estados inimigos, entretanto, os terroristas
"não têm um endereço residencial", afirma Dershowitz. Assim,
os últimos meses foram marcados
pelo reconhecimento da necessidade de reformulação e cooperação dos serviços de inteligência.
Standish explica que agências
como a americana CIA perceberam que não tinham pessoas qualificadas para interpretar mensagens nos idiomas usados pelo inimigo, como o árabe e o pashtu.
"No momento dos ataques de 11
de setembro, não havia um agente
de campo da CIA fluente em
pashtu", conta o jornalista britânico. "Eles ainda não têm especialistas suficientes. Tentam se recuperar, o que vai levar anos."
Após os atentados, os serviços
europeus e americanos estão mais
interconectados. "Uma informação que pode não parecer relevante na Europa pode ser muito
importante em Washington", diz
Standish.
Os aliados no combate ao terrorismo também se empenharam
em cortar o financiamento de
grupos terroristas. Segundo os
analistas, as medidas adotadas
não secaram as fontes de recursos
da Al Qaeda -principalmente o
dinheiro vindo da Arábia Saudita.
De todo modo, observa Reppert, o controle mais rigoroso das
transações bancárias promete dificultar a vida dos seguidores de
Bin Laden. "Criou-se uma transparência sem precedentes na forma como grupos movimentam
dinheiro. Isso deve limitar diretamente operações terroristas de alto custo."
Problemas domésticos
O governo Bush se engajou no
combate internacional ao terrorismo, mas é criticado por não ter
alterado dramaticamente a segurança interna. Seu projeto de criação de um Departamento da Segurança Interna, com orçamento
de US$ 38 bilhões para 2003, ainda não saiu do papel. Os controles
de imigração e dos aeroportos foram reforçados, mas não a ponto
de evitar nova catástrofe, dizem
os especialistas. "A atuação de
Bush não foi eficaz no campo doméstico", dispara Dershowitz. "É
tão fácil hoje explodir um avião
quanto era um ano atrás."
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