|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Disco vira fetiche
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Localizar uma cópia do
primeiro "Chega de Saudade" não é tarefa simples. Ao mesmo tempo
pesado e frágil, o disco de
78 rotações se quebrava
se não manuseado com
cuidado. Para piorar, as
vitrolas deixaram de oferecer a velocidade necessária para sua execução
após a popularização dos
discos de 45 e 33 rotações. Muita gente acabou
doando ou jogando no lixo coleções inteiras.
Hoje, o registro que
inaugurou a bossa nova é
alvo de cobiça. Num site
de leilões, um colecionador baiano conseguiu
vender uma cópia trincada por R$ 260 em abril.
Sérgio Ximenes, pesquisador paulistano que
emprestou sua cópia para
ser fotografada pela Folha, conta que muitos estrangeiros rodam os sebos atrás do 78. "No ano
passado, um alemão estava disposto a pagar até R$
1.000." Ximenes pediu
para não ser fotografado
com sua cópia por temer
o assédio, em especial de
gente ligada a colecionadores japoneses. "Eles
vêem que você tem um
item do João e ficam importunando para saber se
não tem outras coisas. Vira uma encheção."
A cópia que Ruy Castro
tem enquadrada em sua
residência pertenceu ao
colecionador baiano Jorge Cravo, o Cravinho. Segundo o pesquisador
Caetano Rodrigues, dono
de uma das maiores coleções do gênero e co-autor
do livro "Bossa Nova e
Outras Bossas - A Arte e o
Design das Capas dos
LPs", o 78 quase foi seu.
"O Cravinho chegou a me
prometer, mas acabou
deixando-o com o Ruy.
Pelo menos está em boas
mãos", conforma-se.
Em seu blog, Sergio
Britto, dos Titãs, publicou um relato emocionado do espanhol Carlos
Gonzáles Anglada, que tinha como objetivo de vida conseguir o 78 "que
deu início a tudo". Teve
sucesso e recebeu em
Madri sua cópia. Mas ela
chegou partida em dez
pedaços. "Seu lado A
["Chega de Saudade'], em
cruel ironia, olhava para
mim fixamente, como
que me pedindo perdão
por ter chegado naquele
lamentável estado físico",
escreveu Anglada. O vinil
despedaçado acabou
num quadro com moldura de ouro.
(JFJ)
Texto Anterior: BOSSA NOVA
Brigas, nunca mais Próximo Texto: Dois minutos, uma saga Índice
|