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Takako, 65, é a casamenteira de Campinas
ESPECIAL PARA A FOLHA
A paixão da adolescente Takako pelas fotografias e sua mania de colá-las em um álbum
acabariam por dar rumo à sua
vida. "Esta daqui, vovozinha, tirei na escola, esta daqui foi no
curso de cabeleireira", ela explicava, aos 19 anos, a uma senhora de 70. A "baachan" (vovó
em japonês) que espiava o álbum com um olho e que, com o
outro, mirava um futuro casamento, pediu uma foto.
Em Campinas, aos 65 anos,
Takako mostra hoje, com a
mesma paciência e atenção, as
fotografias de mulheres e homens descendentes de japoneses que querem se casar para
outros descendentes de japoneses que também querem se
casar. Em dez anos, ela promoveu 230 encontros, dos quais 15
acabaram em casamento.
Takako Nacano vive o papel
que no passado era desempenhado pelo "nakodo", pessoa
que arrumava casamento entre
os japoneses. No Japão tradicional, o "miyai", casamento
acordado entre os pais dos noivos, era um dos pilares da vida
social -símbolo de que os interesses coletivos deveriam se sobrepor aos individuais.
"Eu faço isso para ajudar as
pessoas a encontrarem a felicidade. Cobro apenas uma "taxinha" para fazer o cadastro, depois tem uma "taxinha" para as
minhas despesas quando há
um encontro. Se dá em casamento, aí também tem mais
uma "taxinha'", diz.
Takako recebe telefonemas
de vários lugares. Houve até
um dos EUA: um senhor prospectando uma noiva para seu
filho. Um outro cara, arrogante,
dizendo ter fazendas, procurava por uma mulher que soubesse "cortar sashimis". Takako
respondeu a ele que, nos dias de
hoje, "só se ela for dona de restaurante japonês". Um viúvo de
São Paulo tinha uma exigência:
queria que a mulher fosse até
sua casa. Takako pensou: ou ele
tem uma casa muito bonita ou é
pão-duro e não quer vir até
Campinas. Ela não aceitou o
pedido do viúvo: "Aqui tem que
seguir a minha regra".
Aquela foto tirada de seu álbum aos 19 anos voltou à sua vida quando recebeu a visita de
um senhor do Paraná. Ele havia
visto a fotografia e perguntava
se ela se encontraria com o filho, de 24 anos. Takako consultou a mãe, uma imigrante da região de Fukuoka, que não se
opôs a que ela conhecesse Minoro Nacano, com quem está
casada há quatro décadas. Onde foi o primeiro encontro? Em
um casamento, é claro! Takako
não tem fotos deste dia.
(MS)
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