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Mulheres são fiéis; homens, pouco amigos
RELAÇÕES AMOROSAS Datafolha mostra que elas são mais severas que os maridos na hora de avaliar o companheiro
DÉBORA YURI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Eles são menos companheiros, menos atenciosos e menos fáceis
de conviver que os
homens brasileiros;
elas são mais fiéis, mais confiáveis e mais atenciosas com o
marido que as mulheres ocidentais.
No campo das relações amorosas, a pesquisa Datafolha detectou uma espécie de guerra
dos sexos -enquanto a porção
feminina coleciona medalhas
de honra ao mérito, a brigada
masculina sai chamuscada desse campo de batalha.
"O japonês é menos atencioso com a mulher. Namorei três
descendentes e eles eram diferentes dos ocidentais. Acho
mais fácil conviver com o brasileiro porque ele fala o que pensa. Os japoneses escondem o
que sentem, e aí a relação fica
complicada", diz a aposentada
Junko Sassaki Jacintho, 65.
Junko integra o clube das
descendentes que peitou a família japonesa para casar com
um brasileiro. Ela fundamenta
sua escolha: "Os casais de descendentes são mais fechados, e
o japonês é mais machista que
o brasileiro. Então, nunca daria
certo eu com um oriental, porque eu não abaixo a minha cabeça por nada no mundo. Se estiver correta, vou até o fim".
Já seu marido, o aposentado
Milton Jacintho, 61, com quem
está casada há 32 anos, derrama uma leva de elogios às japonesas. "As mulheres descendentes são mais honestas, confiáveis, leais. Antes de casar, namorei outras japonesas", diz.
A pesquisa Datafolha mostra
que o homem tem uma imagem
mais positiva da mulher descendente do que a mulher em
relação ao homem descendente. Os orientais são considerados menos companheiros (22%
contra 35%), menos fáceis de
conviver (21% contra 32%) e
menos atenciosos com a mulher (20% contra 41%).
"Todos os imigrantes chegaram com uma carga familiar
em que o homem é o chefe da
família. Do ponto de vista ocidental, talvez o japonês seja
mais machista, mas, no código
de conduta japonês, esse comportamento é normal", explica
a antropóloga Célia Sakurai,
autora de "Os Japoneses" (ed.
Contexto, 368 págs., R$ 49,90).
Talvez seja isso que leve os
homens descendentes, especialmente os mais jovens, a bater tanto na tecla do "não sou
como meu pai". Diz o estudante
de engenharia Alex Akio Kubo,
26: "Nem todos os homens japoneses são machistas. Eu, por
exemplo, não me importo de lavar a louça". Sua namorada, a
estudante de fisioterapia Flávia
Naomi Yano, 24, atesta a diferença entre o "seu" descendente e os outros: "Meu namorado
lava a louça, mas meu pai, não.
Japonês que nasceu no Japão é
diferente, fica mais fechado nas
tradições. As novas gerações se
adaptaram ao estilo de vida dos
casais brasileiros".
O par está junto há três anos.
"Já fiquei com brasileiras, mas
sempre namorei descendentes.
Minha mãe acha mais certo namorar orientais", completa ele.
O mito da gueixa
Segundo Célia Sakurai, os estereótipos sobre a japonesa -e
isso inclui a submissão em relação ao homem- ainda são muito fortes. Ela afirma que a figura da gueixa é tão simbólica
quanto fantasiosa. "Isso vem de
filmes feitos após a Segunda
Guerra Mundial. O mito da
gueixa é mito mesmo no Japão
feudal. A gueixa correspondia a
menos de 1% da população. A
japonesa mesmo era a que trabalhava na roça", explica.
Para a fisioterapeuta Ludmila Figueiredo, 24, que nasceu
em Salvador e pela primeira
vez namora um oriental, "os
descendentes são mais certinhos e mais machistas".
"Eles são até mais machistas
que os baianos, mas é diferente.
O Edson quer que eu estude
duro, trabalhe, tenha a minha
independência, mas não me
deixa ir pra baladas sozinha
com as minhas amigas", conta.
Edson Sassaki Jacintho, 27,
advogado, defende-se: "A diferença é que os japoneses são
mais fechados, e não mais isso
ou menos aquilo. Somos mais
tímidos, e muita gente confunde timidez com frieza".
Sua mãe, Junko, que preferiu
romper com os costumes e se
casar com um legítimo tipo
brasileiro, é menos diplomática. "Meu marido lava a louça,
arruma a cama. O homem japonês é mais resistente a fazer esse tipo de serviço. Meu pai nunca lavou uma louça", lembra.
Mulher na sombra
"As mulheres orientais são
mais sinceras e, com certeza,
mais fáceis de conviver. Também são mais companheiras. A
minha fica preocupada com
qualquer problema meu", elogia o farmacêutico Firoshi Shiguihara, 70, casado com a dona-de-casa Elza Shiguihara, 64,
com quem tem três filhas.
"Para o homem se dar bem
na vida, ele precisa de uma mulher ajudando, na sombra", elocubra Elza. Ela conta que as japonesas aprenderam a se adequar e até driblar o machismo
dos maridos. "Na minha casa, é
assim: a última palavra quem
dá é o pai. Ele dá a última palavra, mas antes eu já coloco a
questão de um jeito que ele acaba decidindo o que eu decido."
A imagem do homem andando na frente da mulher com um
bebê no colo e um monte de sacolas nos braços -um símbolo
do machismo nipônico- ficou
no passado, observa Elza.
"Entre os homens que vieram do Japão, isso era muito
comum, e deixava os ocidentais
chocados. Hoje, não acontece
mais com freqüência."
Elza fala que "o homem descendente não é de fazer grandes demonstrações de afeto em
público". "Não sinto falta de demonstrações de carinho em
público. Pra que ficar mostrando para os outros?", questiona.
"Boa parte dos homens japoneses nunca beijou a mulher
em público, nem no rosto. Eles
não sabem nem paquerar, de
tão reservados", diz a nutricionista Célia Sumaku Yoshisaki,
41, casada com o autônomo
Marcelo Yoshisaki, 40, há 14
anos. Eles viveram oito anos no
Japão, onde presenciaram a
conduta amorosa nipônica.
Menos ousadas
As mulheres nipônicas são
mais dedicadas aos maridos e
mais reservadas que as ocidentais devido à tradição, de acordo com o psiquiatra Içami Tiba.
Apesar de todos os fatores
pró-moças nipônicas, Tiba está
casado há 39 anos com uma
portuguesa. Seus pais, "bem
tradicionais", ameaçaram não
ir ao casamento. "Meus dois irmãos mais velhos casaram por
"miyai", um casamento arranjado por alguém da comunidade.
Não queria ser escolhido, queria escolher minha mulher, então antes saí de casa", lembra.
A antropóloga Célia Sakurai
acredita que, com a passagem
das gerações, aumente a diluição das diferenças.
"Há 20 anos, um ocidental
olhava com nojo para a refeição
de um japonês: "Credo, você come peixe cru?". Hoje, o peixe
cru é moda. O Brasil é um país
multicultural e multiétnico, e
os japoneses fazem parte desse
cenário. Eles não são mais japoneses nem nunca serão. São
agora a mistura do arroz e feijão com missoshiro, quibe e
macarronada", aponta ela.
DÉBORA YURI é filha de japonês. Seu pai chegou ao Brasil em 1954
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