|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Nova geração rejeita rótulo
FORA DOS PADRÕES Exceções ao estereótipo de timidez e introspecção, descendentes quebram regras
DA REDAÇÃO
Se a auto-imagem dos descendentes de imigrantes japoneses é bem delineada, dentro
do estereótipo disciplinado, esforçado, tímido e introspectivo,
não faltam exceções à regra.
Até ganhar fama como baterista entre os fãs de rock nacional, Ricardo Di Roberto, 34, o
Japinha da banda CPM22, se
encaixava no modelo: era tímido, "CDF" e bem disciplinado.
Descendente de quarta geração e mestiço de pai italiano e
mãe japonesa, Japinha foi bancário, estudou computação e
cursou duas faculdades -entre
elas, ciências sociais na USP.
Até na escolha do instrumento musical em que se especializou sobressaiu a timidez:
"Quando comecei, queria ficar
atrás, sentado, com os pratos da
bateria na minha frente".
Hoje não se sente mais encabulado ao se apresentar a platéias de milhares de jovens por
todo o país -e até no Japão, onde fez shows recentemente.
"Fui me auto-afirmando e
deixando para trás o que era
pejorativo", conta o baterista,
que credita parte de sua fama à
sua ascendência nipônica.
"Com o apelido Japinha virei
referência no meio artístico."
Guitarrista do grupo de rock
Hell Sakura e baterista do Hats,
Cherry Takitami, 31, diz que a
influência familiar é forte. "Sofremos pressão para fazer faculdade. Decidi estudar música
e no começo sentia que não era
valorizada", exemplifica.
Desde cedo, percebeu que
não se encaixava nos padrões.
"Cortava o cabelo das bonecas,
fazia tatuagens nelas, inventava roupinhas alternativas."
Hoje, contudo, Cherry diz valorizar a influência da origem
japonesa em sua música.
Aprendeu shamisen (instrumento de cordas) e pretende
convidar músicos de taikô (espécie de tambor) para tocar em
sua banda, a fim de mostrar como as pessoas do "underground" enxergam o mundo.
"É preciso quebrar as regras
mesmo. Para poder melhorar,
tem de sentir um baque, só assim é possível crescer", afirma.
Longe da delicadeza das "garotas de Hello Kitty", a professora de inglês Juliana Kajimoto, 29, ressalta que sempre fugiu aos rótulos nipônicos.
Quando era pequena, lembra, para seus pais, menos
do que nove não era nota.
Para contrariar a maré, teve a
fase punk, com seis piercings
no rosto e "cabelo de todas as
cores" -pink, azul e verde.
"Meus avós achavam engraçado; meu pai, horrível; e minha mãe dizia que enquanto
eu tivesse cabelo estaria bem.
Ela foi muito reprimida quando
era jovem, por isso hoje me
apóia no que faço", explica.
Juliana afirma que, no dia em
que se considerar um peixe
dentro d'água, estará com problemas. "Meu negócio é fazer
barulho. Essa é a minha essência."
(CÁSSIO AOQUI)
Texto Anterior: Para maioria, brasileiros são mais bonitos que orientais Próximo Texto: 4 histórias resumem 100 anos Índice
|