São Paulo, quarta-feira, 18 de junho de 2008

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"Queria ser fotógrafo; meu pai queria que eu fosse médico"

JUN SAKAMOTO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Meus pais vieram para o Brasil no final da década de 1950. Meu pai é agrônomo formado em Osaka. Ele via o Brasil como uma terra de oportunidades e veio a contragosto do pai.
Ele abriu uma loja de insumos agrícolas e, depois de um ano, chamou a minha mãe, que já era noiva dele. Foram morar em Presidente Prudente (558 km de São Paulo).
Em 1970, ganhou muito dinheiro com uma colheita e pagou uma viagem nossa ao Japão. Ficamos lá por três meses. Anos depois, meu pai foi à falência após perder uma plantação de tomate numa geada. No mesmo período, um dos meus irmãos morreu. Foram dois choques violentos para meu pai, mas ele é um herói. Deu a volta por cima e conseguiu dar educação para a gente.
Mas o filho mais velho dele -eu- não aproveitou muito isso. Eu queria ser fotógrafo. Meu pai queria que eu fosse médico, advogado, engenheiro.
Fotógrafo, nem pensar. Ele sempre foi muito estudioso, e eu, muito aventureiro.
Meu contato com a culinária japonesa veio quando viajei a Nova York e trabalhei como ajudante-geral de cozinha.
De volta ao Brasil, tentei estudar arquitetura, trabalhei como fotógrafo e como cozinheiro em restaurante japonês.
Minha namorada ficou grávida e decidimos casar. Pedimos os presentes em dinheiro e, com mais um empréstimo, juntamos R$ 120 mil. Montei este restaurante na unha.
Meu pai, que não queria que eu fosse fotógrafo ou sushiman, tentou muito. Eu tive de dar o retorno de outra forma. Acho que, hoje, que eu tenho independência financeira e um restaurante bem-sucedido, ele deve se orgulhar um pouquinho.


JUN SAKAMOTO, 42, dono do restaurante que tem o seu nome, é filho de japoneses


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