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"Tinha de aprender tudo na marra"
SATOSHI TANJI
ESPECIAL PARA A FOLHA
Nasci na província de Fuku-
shima, no Japão, e vim para o
Brasil em 1957. Meu pai havia
sido funcionário de um centro
cultural no Japão, trabalhava
com educação. Mas minha família veio para o Brasil para
trabalhar na lavoura.
Fui estudar em escola municipal comum, em Adamantina
(578 km de São Paulo). Tinha
de aprender tudo na marra: o
português era precário.
Quando era adolescente, via
preconceito até de descendentes em relação aos japoneses.
Os nisseis discriminavam os
imigrantes, que andavam juntos porque não falavam bem o
português, tinham sotaque.
O colegial era um inferno.
Queria muito voltar para o Japão e rever os meus amigos.
Mas, depois que entrei na faculdade de engenharia civil, ficou
diferente. Manter a cultura virou orgulho, ganhou outro sentido. Percebi que o Brasil tem
muita mistura, e que eu também tinha uma cultura rica.
Não completei o curso de engenharia. Já trabalhava no ramo e acabei parando na metade. Quando houve uma queda
no mercado de engenharia civil, em 1982, abri o restaurante.
Montei um estabelecimento
do estilo "isakaya", que surgiu
das adegas que vendiam saquê
e se sofisticaram vendendo comida. Eu me inspirei bastante
na casa do meu avô: sem muito
luxo e aconchegante.
Durante quatro anos, tive aulas com um mestre de cozinha
japonês. Uma parte do treinamento foi no Japão, para onde
eu voltei em 1987. Um grande
mestre tem de saber fazer tudo.
Os ocidentais acham que comida japonesa é só sushi, sashimi e tempurá. Mas eu não faço
sushi califórnia e "hot roll". Os
clientes sabem que a minha linha é mais tradicional.
SATOSHI TANJI, 56, dono do restaurante Kabura, nasceu na Província de Fukushima, no Japão
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