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Baixada do Glicério foi o marco zero
NA CAPITAL Preço baixo do aluguel de porões atraiu os primeiros imigrantes; agricultura, guerra e imóveis baratos nortearam expansão para Itaquera e zona sul
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Uma ladeira estreita, com casarões
de segunda classe,
que desembocava
num mangue: esse
foi o inóspito marco zero da cidade de São Paulo para os imigrantes japoneses.
Na Baixada do Glicério, divisa entre o centro e a Liberdade,
a rua Conde de Sarzedas recebeu os primeiros estrangeiros
que fugiam das lavouras de café, desiludidos com o pouco dinheiro. Era 1912.
"Essa concentração se deveu
a dois fatores: ainda hoje há na
rua Conde de Sarzedas e adjacências casas enormes, com porões no subsolo. O aluguel era
muito barato, atraindo os imigrantes. Além disso, eles estavam ao lado do centro e de suas
oportunidades de trabalho.
Não precisavam gastar dinheiro com condução", explica a
historiadora Célia Oi, coordenadora da Sociedade Brasileira
de Cultura Japonesa.
Depois, os imigrantes passaram a ocupar também ruas vizinhas à Conde, como a Estudantes e a Conselheiro Furtado.
Essa primeira concentração
durou até a Segunda Guerra.
Em 1942, o governo brasileiro
decretou que os estrangeiros
deveriam sair do centro da cidade. Grandes núcleos se deslocaram para a zona sul -Saúde, Jabaquara, Vila Mariana.
"O fator decisivo foi a possibilidade que os imigrantes
viam de comprar um terreno.
Nessas regiões, desabitadas, os
preços dos imóveis eram baixos. Além disso, Saúde e Jabaquara tinham chácaras, e quem
vinha do interior plantava verdura para vender. A Vila Mariana era uma alternativa ao centro, por ser bem próxima", explica a historiadora.
Com o fim da Segunda Guerra, os imigrantes voltaram à Liberdade. Nascia o "bairro japonês", que ganhou também restaurantes, bares, karaokês e
uma estação de metrô.
Na década de 70, chineses e
coreanos começaram a chegar
e a modificar a paisagem. "A Liberdade hoje é cada vez menos
japonesa e mais oriental. Os
imigrantes se espalharam, e
agora há várias concentrações
de descendentes espalhadas
por São Paulo, em Pinheiros, na
Saúde, na Vila Mariana, no Jabaquara", diz Célia.
Plantio
A expansão nipônica em São
Paulo também foi marcada por
oportunidades agrícolas. Com
o loteamento de terra em Itaquera, na zona leste, centenas
de famílias japonesas chegaram a viver ali.
Pinheiros, na zona oeste, um
bairro valorizado, mantém até
hoje forte presença nipônica.
A semente ali foi a batata, ou
melhor, a fundação, em 1927,
da famosa Cooperativa Agrícola de Cotia (CAC), já extinta, no
Largo da Batata. "Esse foi um
fator determinante. O local virou um pólo de grandes produtores de batata, daí o nome do
largo", diz o pesquisador e ex-presidente do Museu Histórico
da Imigração Japonesa no Brasil Iossuke Tanaka.
(DÉBORA YURI)
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