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inquietações
Maiores medos são a morte e violência
60% DOS JOVENS TEMEM SAIR DE CASA;
30% DO TOTAL E 49% DOS MAIS RICOS
JÁ FORAM VÍTIMAS DE ASSALTO
[por Vinicius Torres Freire, colunista da Folha]
"Atenção para o refrão/É
preciso estar atento e forte/
Não temos tempo de temer
a morte", cantava a desgrenhada
e hippie Gal Costa, 23,
pouco antes da decretação do
Ato Institucional número 5, o
decreto liberticida da ditadura
militar baixado no interminável
ano de 1968. Era o refrão de
"Divino Maravilhoso", canção
com a qual Gal e Caetano Veloso
disputavam o Festival da
Record daquele ano, auge do
tropicalismo e da rebelião de
uma minoria dos jovens.
Quarenta anos depois, o
Instituto Datafolha perguntou
aos brasileiros de 16 a 25 anos
sobre seus medos, sonhos,
gostos, pessoas que admiram
e opiniões sobre questões sociais
controversas como pena
de morte, aborto e drogas. Em
mais uma ironia da história
das ilusões sobre os jovens, de
1968 ou de 2008, moças e rapazes
disseram que seu maior
medo é mesmo o da morte.
Morte
Em geral, as respostas da
pesquisa nem sugerem muita
fantasia nem idéias divergentes.
Os jovens ouvidos têm a
mesma opinião do que o total
da população sobre a proibição
do aborto, fumar maconha e
também sobre a pena de morte.
Somado ao medo da perda
final de parentes e outras
pessoas próximas, o medo da
morte representou 40% das
respostas ao Datafolha.
"Atenção para o sangue sobre
o chão/Atenção/Tudo é
perigoso/Tudo é divino maravilhoso",
cantavam Gal e Veloso,
tratando, no entanto, de perigos e maravilhas
na visão existencialista pop avacalhada do tropicalismo.
Os perigos e o sangue muito concretos
da realidade de 2008, porém, não parecem
afetar tanto os jovens ouvidos pelo Datafolha.
"Violência" é o terceiro maior medo, mas foi citado
por apenas 13%.
Assalto
O número impressiona mais porque quase
um de cada três jovens diz já ter sido assaltado.
Diz ter sido vítima do mesmo crime a metade
dos jovens das famílias com renda superior a R$
4.150 por mês -dez salários mínimos.
Quando o Datafolha indaga sobre o medo de
sair de casa, o quadro muda um pouco: 26% dos
jovens dizem ter "muito medo" de sair de casa
(18% no caso dos rapazes, 33% no caso das moças).
Mesmo assim, e obviamente, 74% dizem
não ter "muito medo": 40% "não têm medo" e
34% têm "algum medo", o que dá a impressão de
razoável tranqüilidade, dados os riscos de fato e
a experiência real de violência dos jovens.
"Muito medo" de sair de casa é mais freqüente
entre os casados (34%) e com filhos (33%) do
que entre os solteiros (23%) e sem fi lhos (24%).
De mais intrigante, os jovens nordestinos são
muito mais temerosos (33% de "muito medo")
que os do Sudeste (18%).
"Desemprego" é apontado como o maior temor
de apenas 7% dos jovens; o medo de não encontrar
trabalho é maior entre os que têm curso
superior, o que parece compreensível, dadas as
ansiedades dos recém-formados.
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