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NA ARQUIBANCADA
Há vida na camisa 7
JANIO DE FREITAS
COLUNISTA DA FOLHA
Sete é conta de mentiroso, daí
o Sete de Setembro, sete são os
dias da semana, sete as pragas bíblicas, sete os Povos das Missões,
sete os "sábios da Grécia", como
os "Sete Samurais", Roma se ergueu em sete colinas, a água criou
Sete Quedas, não sei por que há
bota de sete léguas e os milênios
guardaram as Sete Maravilhas do
mundo. Que seriam mais se contados alguns dos camisas 7 do futebol brasileiro. Bem, futebol que
os camisas 7 esqueceram, sabe-se
lá o porquê, desde muito tempo.
Flamengo, naturalmente -ou
como dizem hoje, flamenguista
-, para mim a camisa 7 começa a
confundir-se com a glória graças
a um argentino acariocado, Valido, que deixara o futebol e, sob total descrédito, reaparece só para
disputar uma final com o pretensioso Vasco - e faz, de cabeça, o 1
a 0 que inicia o primeiro tricampeonato do Flamengo.
Sem idade para encarar arquibancadas de finais, não vi o jogo,
mas o rádio dava o que a TV nega:
a imaginação, a fantasia, a liberdade do sonho, e retenho ainda a
imagem desse gol formidavelmente elaborada em minha cabeça. Não, no meu peito.
Dali por diante, dou testemunho da prodigalidade incomparável do futebol brasileiro em especialistas naquele corredor, por
onde Cafu se esfalfa sem como
atacar e nem defender, chamado
de ponta-direita. A rainha da Inglaterra chegou a dar o título de
"sir" ao notável 7 Bobby Charlton.
Por aqui os 7 pintavam, um em
seguida ao outro, e tantas vezes simultâneos, em todos os quadrantes. Para que não faltem os sempre convenientes exemplos, eis alguns da seleção brasileira. O baiano Pedro Amorim. O gaúcho Tesourinha. E dois injustiçados já no
seu tempo e, ainda mais, na "história": o paulista Julinho, um craque fulminante, e o carioca Joel,
completo até pelo caráter.
Ah, sim, e o causador involuntário dessas duas injustiças: Garrincha, o futebol espantoso, e adornado com a moldura folclórica
produzida pela ficção da crônica
botafoguense. Neste ano em que
Garrincha faria 70 anos, faz 50
anos a imensa surpresa do surgimento do "garoto Garrincha" já
artilheiro do Campeonato Carioca - mas o ano deu início, claro,
ao segundo tri do Flamengo.
Daqueles e de alguns outros nomes, até na seleção a camisa 7 foi
descendo, descendo, e sumiu. Ou
seja, ficou com Emerson. Se, porém, em matéria de governo a esperança ainda não venceu o medo, na camisa 7 ressurge sob o nome de Robinho. Seus altos e baixos incomodam, seus brilhos encantam. Como um dia disseram
dos outros citados, é ainda um garoto. Mas já deu vida outra vez à
camisa 7. Tomara que também tenha vida longa. De sete léguas.
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