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TURISTA OCIDENTAL
Em Jeju, brasileiros fazem de tudo para aparecer na TV ou nos jornais
Mala eu?
MÁRIO MAGALHÃES
ENVIADO ESPECIAL A SEOGWIPO
Duas horas antes do passeio do
Brasil contra a China, o repórter
conversa do lado de fora do estádio Jeju com brasileiros fantasiados, cheios de disposição ou
chances de aparecer na transmissão da TV. Aí recebe uma dura
-educada, mas veemente-: ""E
eu? Você não vai me fotografar?".
É o baiano de Salvador Rubens
Pinheiro, 38. Ele está com uma
bandeira do Bahia fazendo as vezes de capa. E propõe: ""Se você
quiser, eu uso a bandeira como
saia". Pinheiro mora em Paris,
onde é cinegrafista da Euro TV.
De férias na Coréia do Sul, mudou
de lado: em vez de mostrar os outros, virou atração.
Ele integra uma tribo mundial
que levou ao paroxismo a previsão do artista plástico americano
Andy Warhol: no futuro, todos teriam 15 minutos de fama. A busca
já é pelo segundo de exposição televisiva durante uma partida.
Vale quase tudo, e é difícil estabelecer os limites. O cinegrafista
tem dificuldades: seu modelo é
improvisado e chama menos
atenção do que alguns profissionais na arte de atrair os holofotes.
""Sempre se espera aparecer na
TV", reconhece. Mas afirma que
esse não é seu objetivo. Observa
ao redor e diz: ""Não acho que as
pessoas são malas. É uma questão
de liberação do seu interior. Se
não der para aparecer, problema
nenhum. Os familiares se orgulham quando nos vêem. Mas eu
não me exponho".
Torcedores de outros países,
destacadamente chineses, pedem
para Pinheiro posar ao seu lado
para fotografias. É um vencedor.
Perto do gaúcho de Porto Alegre Clóvis Fernandes, 47, o baiano
é aprendiz. Dono de uma pizzaria,
Fernandes está na sua quarta Copa. Carregando uma réplica do
troféu, posa ao lado de chineses e
capricha nas caretas ao levantá-lo.
""O limite de tudo isso é a emoção", pontifica. ""Cada um joga
para fora o que sente. Mais que
uma partida, deixamos aqui um
pedaço da vida da gente."
Fernandes integra o grupo Gaúchos na Copa, com carro enfeitado, site na Internet e um orgulho:
já viraram notícia. ""Para fazer
parte da história, nada melhor do
que aparecer. Ninguém é mala
por isso." O gaúcho e o baiano
empregam a expressão ""mala" no
sentido de chato, excessivo, desagradável -e não a de certos
meios paulistas que a usam para
qualificar marginais.
É preciso planejamento para tirar a sorte grande -a imagem na
televisão. O advogado FábioTheophilo, 29, e a estudante de direito Wal Ribeiro, 23, vieram de
Londrina (PR). A peruca estilo
black power dele é um sucesso.
Há fila por uma foto.
""Escolhi a peruca porque sou de
Londrina", diz Theophilo. ""Não
temos uma fantasia como a de
gaúcho ou cangaceiro." Ele e a namorada encomendaram também
uma cópia do troféu feita por um
artista plástico.
O advogado vibra: ""Disseram
no Brasil que viram a gente na
TV". E contabiliza: ""Nos dois jogos da seleção já bateram 110 fotos
conosco. Viemos para a festa.
Aparecer é consequência".
Ninguém tem obsessão pelo segundo de fama, a confiar nas declarações. ""Tem mesmo gente
que vem aparecer, mas não eu",
afirma o empresário baiano Sandoval Oliveira Júnior, 38, com
uma roupa de Lampião.
O empresário de Ribeirão Preto
(SP) Carlos Roberto Marolo, 47,
usa uma peruca verde e amarela e
uma bandeira do Comercial.
""Não quero me expor", afirma
ele, categórico.
O vencedor da competição de
pedidos de foto foi, com vantagem, o professor de educação física potiguar Renato Bahia, 33. Ele
trouxe de Natal a máscara do...
Maskara. ""Aqui só tem oito pessoas de Natal. Vou aparecer." Repete o coro: ""Não há malas. Vale
tudo para chamar mais a atenção
que os chineses".
O futebol já produziu na China
figuras semelhantes. Perderam
feio ontem nesse quesito, mas ganharam em número e animação,
apesar do time que têm e do perfil
de novos ricos, e não de ""torcedor
de arquibancada". Alguns chineses protestaram com camisetas de
apoio a um grupo de mães dos estudantes reprimidos pelo governo em junho de 1989 na praça da
Paz Celestial, em Pequim.
Brasileiros também se manifestaram contra uma suposta atitude
da equipe: ""Seleção ignora torcida
na Coréia", escreveram numa faixa. Mas perderam para as ""Alô,
Galvão", apelo a uma citação do
locutor da TV Globo.
Há motivos nobres em alguns
esforços. O empresário gaúcho
Lauro Jurgeatis, morador de Brasília, escolheu um boneco de bebê
vestido com a camisa da seleção
para reforçar uma fantasia. Avisou a mulher para o filho João Pedro, 3, ficar de olho na TV. ""É aniversário dele."
Assim como o engenheiro agrônomo Ricardo Oliveira, 38, e a arquiteta Luciana Magalhães, 30,
ambos de São Paulo. Fizeram um
cartaz para amigos de uma certa
"convenção de Itu".
Para quem imagina que fantasia
de estádio tem de ser desleixada, o
casal de professores universitários pernambucanos Antônio, 48,
e Rosângela Coelho, 46, surpreendeu em elegância como Lampião
e Maria Bonita. Eles ganharam o
pacote para ver a Copa-2002 numa promoção. ""Só agora foram
mais de 150 fotos."
É como diz o gaúcho Fernandes:
"Não custa nada ganhar uma capinha de jornal".
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