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FUTEBOL
Pelé eterno
TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA
Quando uma pessoa quer
me elogiar para outra, que
não entende nada de futebol, diz
que joguei ao lado do Pelé na Copa de 70. Tenho orgulho disso e de
ter atuado com tantos outros craques na seleção e no Cruzeiro.
O filme "Pelé Eterno" é uma aula sobre futebol. Pelé tinha, no
mais alto nível, todas as qualidades técnicas, físicas e emocionais
de um gênio da posição. Ele só
não foi tão malabarista quanto
Maradona e Ronaldinho. Maradona foi o segundo dos supercraques, e Ronaldinho já é um dos
maiores de todos os tempos.
Na infância, Pelé não freqüentou escolinha nem teve nas categorias de base dos clubes a científica preparação técnica e física
dos atuais jovens. Será que hoje
ele seria melhor ou os professores
iriam atrapalhá-lo?
Pouco tempo depois de chegar
ao Santos, o menino Pelé já era titular, viajava pelo mundo e jogava duas ou três vezes por semana.
Não havia tempo para treinar.
Pelé não precisou aprender nem
aperfeiçoar nada. Nasceu rei.
Antes dos jogos, Pelé ia ao vestiário, deitava num canto e fechava os olhos. Era proibido incomodá-lo. Não sei se pensava no rival,
se dormia e sonhava com as maravilhas que iria fazer ou se fazia
planos para a folga após o jogo.
Antes de a bola chegar aos seus
pés, numa fração de segundos,
Pelé mapeava tudo que estava à
sua volta. Com o olhar, ele me dizia o que iria fazer. Era difícil
acompanhá-lo. A comunicação
analógica, sem palavras, é menos
precisa, mas é mais rica.
Além das extraordinárias qualidades técnicas, Pelé era veloz e
forte. Quando era muito marcado
e não conseguia partir com a bola
dominada, ia jogar de centroavante, de costas e perto do zagueiro. Quando a bola chegava, imobilizava o defensor com o corpo e
os braços, girava e fazia o gol.
Pelé era um ambicioso guerreiro. Quanto mais difícil a partida,
mais se agigantava. Se jogasse
mal (isso ocorreu muitas vezes,
não estou mentindo), no outro jogo se tornava um possesso.
Ele queria brilhar sempre, para
não deixar dúvidas de que era o
maior de todos. A ambição é uma
característica dos grandes vencedores.
Pelé fazia tudo o que era preciso
fazer. Unia o talento com a simplicidade e a eficiência total. A
perfeição não é humana. O craque Pelé é exceção.
Razoável estréia
O Brasil teve uma razoável estréia contra o Chile. Era o esperado. A altitude atrapalhou, a
maioria dos atletas estava de férias, não houve tempo para eles se
prepararem bem e faltaram os
grandes craques. O Chile também
estava bastante desfalcado. O empate seria o resultado mais justo.
Como era previsto, os três volantes ficaram muito atrás, e os
dois centroavantes estavam muito à frente. Alex ficou sobrecarregado. Com a entrada de Diego,
não houve mudança no desenho
tático. Ele fez a função do Renato.
Como Diego tem características
de um meia, o time ficou mais rápido e ofensivo.
Se Kleberson e Júlio Baptista
não estivessem contundidos, Diego não entraria nessa posição.
Parreira não vai escalar dois volantes e dois meias de ligação
(Kaká e Alex) perto dos dois atacantes. Vai contra seus conceitos.
Não se pode confundir esse esquema com o tradicional 4-4-2
europeu, utilizado na Copa-94,
preferido pelo técnico, com dois
volantes e um armador de cada
lado -com funções defensivas e
ofensivas-, formando uma linha de quatro no meio-de-campo. A equipe titular não joga assim porque Parreira quer aproveitar o talento dos meias ofensivos Kaká e Ronaldinho. Isso mostra que ele prefere o craque ao esquema tático.
Todos esperavam a entrada de
Vágner. Mas Parreira não gosta
de queimar etapas. Ricardo Oliveira já tinha sido convocado e é
mais experiente. Ele se movimentou mais do que o atacante
Adriano. Fez pouca diferença.
Mancini e Gustavo Nery atuaram de laterais, e não de alas ou
meias, como fazem nos seus clubes. Na lateral, eles se tornam jogadores comuns porque fazem
pouco o que mais sabem, que são
as tabelas, as entradas pelo meio e
as finalizações.
O gol do Brasil foi a soma do talento de Alex nas bolas paradas e
a eficiência de Luis Fabiano pelo
alto. O time reserva é melhor do
que o titular nas jogadas aéreas.
Os destaques foram Júlio César
e o zagueiro Luisão. Não cometeram erros, e o goleiro fez ótimas
defesas. Hoje, contra a Costa Rica, deve ser mais fácil.
E-mail: tostao.folha@uol.com.br
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