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PEQUIM 2008
'Sem choro, sem choro'
COMANDADA POR DAIANE DOS SANTOS, EQUIPE BRASILEIRA VAI À FINAL PELA PRIMEIRA VEZ EM UMA OLIMPÍADA, E PAÍS TERÁ 4 GINASTAS EM DECISÕES
INDIVIDUAIS
EDUARDO OHATA
ENVIADO ESPECIAL A PEQUIM
""Sem choro, sem choro", pedia Daiane dos Santos, ao ver a
emoção das colegas, lágrimas
escorrendo por suas faces.
Uma delas, Ana Cláudia Silva, sangrava abundantemente
pela mão esquerda. Mas seu
choro não era provocado pela
dor. Era sua forma de comemorar a classificação do Brasil a
uma inédita final olímpica por
equipes na ginástica artística.
Em meio ao domínio de China e EUA, o país emplacou duas
ginastas na decisão do individual geral (Jade Barbosa e Ana
Cláudia), uma no solo (Daiane)
e outra no salto (Jade).
""A Laís [Souza], a Daniele
[Hypólito] e eu trabalhamos
muito para chegar à final por
equipes. Não conseguimos nos
Jogos de Atenas, ficamos em
nono [apenas as oito primeiras
equipes se classificam à decisão]", afirma Daiane, que, favoritíssima na Grécia, amargou o
quinto lugar na final do solo.
""Parece até que Deus disse
"Daiane, você tem uma nova
chance, veja se aproveita..."",
afirmou, exibindo largo sorriso,
em referência a estar, quatro
anos depois, novamente em
uma final olímpica do solo.
""O que me falta agora é uma
medalha olímpica", disse a ginasta, campeã mundial no solo
no Mundial de Anaheim, em
2003, e dona de dez ouros em
etapas de Copa do Mundo.
Ontem, quando reestreava o
"Brasileirinho" na Olimpíada e
liderava o Brasil, Daiane renasceu no solo. Lançou mão de
movimentos dificílimos, entre
eles o duplo twist esticado, que
até hoje nenhuma outra ginasta do mundo conseguiu exibir
em eventos de peso e que Daiane não usava havia mais de três
anos, devido à carga imposta
sobre seus joelhos.
E foi ela quem melhor lidou
com os momentos de tensão e
ansiedade a que as brasileiras
foram submetidas na competição. Especialmente quando a
equipe se exibia na trave, último aparelho do Brasil e que
causou a queda de três atletas:
Jade, Laís e Daniele. Esta última cumpre sua terceira Olimpíada e é especialista na prova.
""Não ficamos pensando "não
vai dar, não vai dar". Se tivéssemos feito isso, aí é que teríamos
ficado em oitavo, ou talvez nem
classificado", analisou, com lágrimas nos olhos, Laís, 19. ""Depois de terminar a trave, chamei a Ethi [a colega Ethiene
Franco] e disse "temos de torcer pelas outras, vamos levantar a cabeça e torcer"".
Isso tudo depois de a equipe
amargar erros no solo, no qual a
arbitragem apontou que Daiane pisou fora da linha; no salto,
no qual Jade aterrissou fora da
área demarcada; e nas paralelas
assimétricas, nas quais Ana
Cláudia, campeã brasileira no
individual geral, sofreu um
tombo, possivelmente pelo estouro de uma bolha na mão.
Mesmo assim, a equipe somou 233,800 pontos, avançando na sétima posição. Se não tivesse errado tanto, o time poderia ficar em quinto, posição
prevista pelo técnico da seleção, Oleg Ostapenko, ucraniano que viu seu país ficar em 11º.
Agora, além da final por equipes, na terça, e da do individual
geral, na sexta, a ginástica brasileira verá três disputas por
medalha no próximo domingo,
já que, além de Daiane (no solo)
e Jade (no salto), o bicampeão
mundial Diego Hypólito lutará
pela medalha de ouro no solo.
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