São Paulo, segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

PEQUIM 2008

'Sem choro, sem choro'

COMANDADA POR DAIANE DOS SANTOS, EQUIPE BRASILEIRA VAI À FINAL PELA PRIMEIRA VEZ EM UMA OLIMPÍADA, E PAÍS TERÁ 4 GINASTAS EM DECISÕES INDIVIDUAIS

EDUARDO OHATA
ENVIADO ESPECIAL A PEQUIM

""Sem choro, sem choro", pedia Daiane dos Santos, ao ver a emoção das colegas, lágrimas escorrendo por suas faces.
Uma delas, Ana Cláudia Silva, sangrava abundantemente pela mão esquerda. Mas seu choro não era provocado pela dor. Era sua forma de comemorar a classificação do Brasil a uma inédita final olímpica por equipes na ginástica artística.
Em meio ao domínio de China e EUA, o país emplacou duas ginastas na decisão do individual geral (Jade Barbosa e Ana Cláudia), uma no solo (Daiane) e outra no salto (Jade).
""A Laís [Souza], a Daniele [Hypólito] e eu trabalhamos muito para chegar à final por equipes. Não conseguimos nos Jogos de Atenas, ficamos em nono [apenas as oito primeiras equipes se classificam à decisão]", afirma Daiane, que, favoritíssima na Grécia, amargou o quinto lugar na final do solo.
""Parece até que Deus disse "Daiane, você tem uma nova chance, veja se aproveita..."", afirmou, exibindo largo sorriso, em referência a estar, quatro anos depois, novamente em uma final olímpica do solo.
""O que me falta agora é uma medalha olímpica", disse a ginasta, campeã mundial no solo no Mundial de Anaheim, em 2003, e dona de dez ouros em etapas de Copa do Mundo.
Ontem, quando reestreava o "Brasileirinho" na Olimpíada e liderava o Brasil, Daiane renasceu no solo. Lançou mão de movimentos dificílimos, entre eles o duplo twist esticado, que até hoje nenhuma outra ginasta do mundo conseguiu exibir em eventos de peso e que Daiane não usava havia mais de três anos, devido à carga imposta sobre seus joelhos.
E foi ela quem melhor lidou com os momentos de tensão e ansiedade a que as brasileiras foram submetidas na competição. Especialmente quando a equipe se exibia na trave, último aparelho do Brasil e que causou a queda de três atletas: Jade, Laís e Daniele. Esta última cumpre sua terceira Olimpíada e é especialista na prova.
""Não ficamos pensando "não vai dar, não vai dar". Se tivéssemos feito isso, aí é que teríamos ficado em oitavo, ou talvez nem classificado", analisou, com lágrimas nos olhos, Laís, 19. ""Depois de terminar a trave, chamei a Ethi [a colega Ethiene Franco] e disse "temos de torcer pelas outras, vamos levantar a cabeça e torcer"".
Isso tudo depois de a equipe amargar erros no solo, no qual a arbitragem apontou que Daiane pisou fora da linha; no salto, no qual Jade aterrissou fora da área demarcada; e nas paralelas assimétricas, nas quais Ana Cláudia, campeã brasileira no individual geral, sofreu um tombo, possivelmente pelo estouro de uma bolha na mão.
Mesmo assim, a equipe somou 233,800 pontos, avançando na sétima posição. Se não tivesse errado tanto, o time poderia ficar em quinto, posição prevista pelo técnico da seleção, Oleg Ostapenko, ucraniano que viu seu país ficar em 11º.
Agora, além da final por equipes, na terça, e da do individual geral, na sexta, a ginástica brasileira verá três disputas por medalha no próximo domingo, já que, além de Daiane (no solo) e Jade (no salto), o bicampeão mundial Diego Hypólito lutará pela medalha de ouro no solo.


Texto Anterior: Mao Live reúne salada musical de samba e rock
Próximo Texto: Ginástica: Daiane e Jade escondem movimentos para a final
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.