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"O Romário não se preocupou
nem com a seleção nem comigo"
Folha - O Romário foi a uma
igreja evangélica depois de ter ficado fora da lista. Ele também chorou. Esses atos não te comovem?
Scolari - É claro, eu acho interessante. Acho que é normal uma
pessoa mudar. Ele está mudando
alguns conceitos na vida dele, a
espiritualidade dele está mudando. É ótimo, fico contente, porque
eu sou amigo do Romário, eu gosto dele, não tenho nenhuma diferença. Assim como eu, no sábado
fui à Nossa Senhora do Caravaggio. Faz parte do dia-a-dia, faz
parte da nossa vida. Mas isso nada
tem a ver com a escolha.
Folha - O que mais pesou?
Scolari - Sempre disse que foram
aspectos técnicos, táticos e de
confiança, de fidelidade.
Folha - Dentro do aspecto de confiança e fidelidade, o que contou
mais para ele ficar fora?
Scolari - Quando eu te convido
para ir à minha casa e te abro a
porta, é sinal de que eu tenho confiança. Quando eu convoco pela
primeira vez a seleção, levo para
jogar contra o Uruguai e dou a
tarja de capitão, é porque tenho
confiança. Aí preciso de referência na Copa América e não tenho.
Preciso de força para eu ficar até
mais forte em termos de seleção,
porque eu estou chegando, e não
sou atendido. E vejo que depois
viaja com o clube [Vasco" e, quando nós estamos na competição,
ainda tem um passeio em Cancún. Sinal de que ele não está
preocupado nem com a seleção
nem comigo. Então, nesse momento, meu coração, que é um
coração aberto, tem que se fechar.
Folha - Ele te procurou?
Scolari - Não.
Folha - E se tivesse te procurado.
Scolari - Se, se, se, se... Não
adianta nada. Está fora, o assunto
está encerrado.
Folha - E as insinuações de que as
convocações seriam pautadas por
padrinho, empresário...
Scolari - Insinuação eu não vou
responder.
Folha - Ele disse que isso ocorria
na seleção, e o técnico é você...
Scolari - Perguntem vocês a
quem ele estava se referindo. A seleção já teve 300 técnicos. Peçam a
ele para confirmar meu nome.
Tomem nota e gravem, que eu o
processo.
Folha - O que achou de a mãe dele
ter dito que você não tem coração?
Scolari - Achei normal a atitude
dela. Atitude de mãe, eu entendi.
Folha - O que espera do Ronaldo?
Como você avaliou o choro dele
após ter perdido o Italiano?
Scolari - Aquilo foi uma reação
espontânea. [Frisa" Aquilo foi
reação espontânea, não fabricada.
Aquilo foi uma reação espontânea, de um envolvimento de um
atleta numa decisão de um título.
Folha - O jogador ganha pontos
com você com isso?
Scolari - Eu admiro. Ele valorizou, sentiu o trabalho dele e dos
companheiros ser perdido no último dia, em 30 minutos, o trabalho de um ano. Isso é envolvimento profissional.
Folha - O que o levou a apostar no
Ronaldo mesmo com o risco de ele
não estar pronto na Copa?
Scolari - Tive certeza de que poderia dar chance a ele. A certeza
de que ele poderia jogar só foi me
dada depois que o doutor Runco
trabalhou com ele. Mas, quando
fui para Milão, na primeira convocação dele, ele estava trabalhando muito bem, alegre, feliz e
dizendo que queria voltar. Senti
que ele tinha se dedicado para jogar na Inter e na Copa.
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