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O PERSONAGEM
Após punição, maratonista vai correr Olimpíada
ADALBERTO LEISTER FILHO
DA REPORTAGEM LOCAL
André Luiz Ramos, 34, era
um dos favoritos a obter uma
das vagas brasileiras na maratona dos Jogos de Sydney-00.
Em abril de 1998, o fundista
havia corrido a Maratona de
Boston em 2h08min26s, conseguindo até então o melhor tempo de um brasileiro na prova.
Seu feito só seria superado
por Ronaldo da Costa, que obteve o melhor tempo do mundo na Maratona de Berlim, cinco meses depois (2h06min05s).
"Tive uma fase boa naqueles
anos, mas tinha dado prioridade a outras provas e não me
classifiquei aos Jogos de Atlanta [em 1996]", lembra Ramos.
Em março de 1999 sua situação mudou radicalmente. A
Confederação Brasileira de
Atletismo divulgou que o atleta
havia sido pego no antidoping
para norandrosterona, metabólito do esteróide anabólico
nandrolona no organismo.
Próximo da disputa pela vaga
olímpica, Ramos se viu em
uma situação delicada. Sua defesa contestou o resultado do
exame. Os parâmetros das
amostras A e B eram bem diferentes, embora em ambas o resultado fosse positivo.
A justificativa foi suficiente
para que o atleta fosse inocentado pelo tribunal da CBAt.
Porém seu caso se arrastou
por meses no Painel de Arbitragem da Iaaf (Associação Internacional das Federações de
Atletismo), que era a última
instância para casos de doping.
"O André acabou condenado, mas a sentença só saiu
quando a pena já havia sido
prescrita", lamenta Thomaz
Mattos de Paiva, advogado do
fundista na época e especialista
em legislação sobre doping.
A burocracia abortou o sonho olímpico de Ramos, que
viu naufragar seu plano de
competir na litorânea Sydney.
Até hoje, ele evita o assunto.
"Não fiquei muito tempo
sem correr. Acho que foram
uns nove meses", afirma ele,
sem entrar em detalhes.
A volta às ruas costuma ser
frustrante para atletas que ficaram muito tempo parados.
Não foi o caso de Ramos.
O atleta procurou a altitude
de 2.500 m de Paipa, na Colômbia, para voltar ao topo. "É um
local tranqüilo e ficou famoso
depois que o Ronaldo [da Costa] se preparou lá e quebrou o
recorde da maratona", conta
Ramos, que criou raízes na cidade e hoje cria gado por lá.
A estratégia deu certo. Em
2003, ele correu a Maratona de
Berlim em 2h09min58s, chegando em oitavo lugar naquela
que é considerada a mais forte
disputa da história da prova.
Paul Tergat e Sammy Korir,
campeão e vice, são os únicos
atletas a correrem os 42,195 km
em menos de 2h05min.
O tempo de Ramos só foi superado neste ano, quando Vanderlei Cordeiro de Lima venceu
a Maratona de Hamburgo. Rômulo Wagner da Silva ficou
com a terceira vaga brasileira.
Paipa mostrou ser o talismã nacional. Os três atletas treinaram
lá. "Nunca chegamos a uma
Olimpíada com uma equipe
tão forte. Será uma prova desgastante. Mas acho que dá para
chegar entre os seis primeiros."
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