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NATAÇÃO
Em busca de bolsa, Cielo se mudou para os EUA
Medalhista seguiu caminho contrário ao pretendido pelos cartolas
Confederação queria que os atletas treinassem no Brasil e, dois anos atrás, cortou patrocínio daqueles que treinavam no exterior
DA ENVIADA A PEQUIM
Os primeiros treinos de César Cielo com Gustavo Borges
no clube Pinheiros, em São
Paulo, aconteceram porque a
mãe, Flávia, aflita, queria tirar
da cabeça do filho adolescente a
idéia de se mudar para os EUA.
Anos mais tarde, entretanto,
a ida do rapaz para o exterior se
tornou uma opção necessária,
apoiada pela família. O nadador
não encontrava no Brasil o que
teria em Auburn: uma bolsa para estudar e treinar.
Em tempos de aporte estatal
de recursos cada vez maior no
esporte, César Cielo chegou ao
pódio olímpico seguindo caminho contrário ao que cartolas
da natação almejavam.
Em 2006, a Confederação
Brasileira de Desportos Aquáticos cortou o patrocínio de
quem treinava no exterior.
Queria suas estrelas sendo trabalhadas no país. Os Jogos de
Pequim encerram o primeiro
ciclo olímpico completo do
Brasil com recursos da Lei Piva.
Cielo também seguiu trajetória que contraria padrões de
treinos de quem almeja o topo
do pódio. Ficou dividido entre
Brasil e EUA, entre natação e
estudos, entre a piscina de jardas e a de 50 metros.
"Acho que isso acabou sendo
bom. Eu testei várias coisas para mim. Nos primeiros anos, foi
complicado. Tinha de me adaptar. O apoio maior acabou vindo com os resultados", disse ele
antes de ir para Pequim.
O trabalho deu tão certo que
a CBDA convidou o técnico
australiano Brett Hawke para
acompanhar Cielo na Olimpíada. A idéia já havia sido colocada em prática nos Jogos de
Sydney-2000, mas os técnicos
convidados não tiveram seu
trabalho bem avaliado.
Neste ano, na reta final de
preparação olímpica, Cielo foi
incluído na "tropa de elite" da
seleção brasileira e recebeu
atenção e verba especiais para
disputar competições.
A opção por treinar no exterior obrigou-o a mudar também seu estilo de vida.
O nadador deixou a casa dos
pais e teve de se virar sozinho,
sem dominar completamente o
idioma inglês. A vida na pequena cidade de Auburn, no Alabama, era tranqüila, com festas e
namoros proibidos.
"Quando eu voltava para o
Brasil, queria sair todo dia, aí
ganhei a fama de baladeiro.
Mas lá era 100% natação todos
os dias", afirma ele, campeão
nos 50 m livre e bronze nos 100
m livre nesta Olimpíada.
"Eu me acostumei a essa vida. Quando penso em morar
em São Paulo, lembro do trânsito e me dá um desânimo..."
O brasileiro, porém, deve
mesmo deixar Auburn ao final
deste ano. Após anos sem poder
assinar contratos de patrocínio
porque era atleta universitário,
decidiu se tornar profissional.
Já tem propostas para treinar
em clubes da Itália e da Austrália. Providencia a cidadania italiana. A vida nômade deve continuar.
(MARIANA LAJOLO)
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