São Paulo, sábado, 16 de agosto de 2008

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NATAÇÃO

Recordes alheios motivaram campeão

Festival de quebra de marcas incentivou Cielo a ser mais rápido

Sensação do campeonato universitário dos EUA, nadado em jardas, atleta brasileiro transpôs tempos para a piscina olímpica


DA ENVIADA A PEQUIM

Quando os recordes mundiais dos 100 m e dos 50 m livre começaram a cair em cascata no início deste ano, César Cielo ficou incomodado. O primeiro impulso foi pedir a seu treinador para dar um tiro de 100 m e mostrar que poderia ser tão rápido quanto os adversários estavam mostrando.
A idéia foi vetada. O australiano Brett Hawke sabia que seu pupilo tinha talento e estava treinado o suficiente para ser tão ou mais veloz do que os maiores rivais, mas aquela ainda não era a hora de provar isso.
O brasileiro chegou aos Jogos Olímpicos de Pequim com as marcas de 21s75 nos 50 m livre e 48s43 nos 100 m livre, ambas recordes sul-americanos.
Os tempos, porém, ainda o colocavam longe dos recordistas mundiais. O francês Alain Bernard marcara 47s50, e o australiano Eamon Sullivan era o mais veloz com 21s28. A sigla LZR, do traje produzido pela Speedo, já tinha entrado de vez no vocabulário da natação.
O brasileiro era o atleta sensação do campeonato universitário dos EUA, disputado em 50 jardas (cerca de 45,7 metros). Na piscina mais curta, em que é mais fácil cumprir as distâncias, era recordista. Mas precisava transportar esses resultados para os 50 metros.
Também lhe faltava uma medalha em um campeonato de nível global. No Mundial de Melbourne, no ano passado, havia amargado a quarta colocação nos 100 m livre.
"Eu sabia que podia nadar mais rápido que eles. Eram atletas que eu já tinha vencido em competições", disse Cielo.
No Cubo d'Água, porém, a pressão aumentou ainda mais. Na abertura do revezamento 4 x 100 m livre, ele nadou em 47s91 e superou sua marca pessoal. Ganhou confiança.
Mas os rivais também estavam preparados. Na final da mesma prova, Sullivan cravou 47s24. Nos 100 m livre, Bernard deu o troco, com 47s20. Alegria que durou apenas até a segunda bateria, quando Sullivan, então, baixou a marca para impressionantes 47s05.
Abalado com seu resultado ruim na semifinal, que o balizou na raia 8, Cielo teve de retomar a confiança. Na decisão, esqueceu os adversários que o atormentaram e suas marcas, focou apenas sua prova e ganhou o bronze, com 47s67.
Quando bateu a mão na parede e olhou para o placar, Cielo gelou. Seu nome aparecia em quarto. O nadador demorou alguns segundos para perceber que havia empatado com o norte-americano Jason Lezak.
"Antes de competir, ele ainda estava tenso com a velocidade dos adversários. Uma hora achava que iria conseguir, em outras, que não ia. A medalha o ajudou a ficar mais confiante", afirmou o técnico Hawke.
O resultado da confiança foi visto na piscina do Cubo d'Água. Nas eliminatórias, Cielo marcou 21s47 e superou a melhor marca olímpica dos 50 m livre, que pertencia a seu ídolo Alexander Popov (RUS) desde os Jogos de Barcelona-1992.
A alegria, entretanto, durou somente uma bateria, até o francês Amaury Leveaux cumprir a distância em 21s46.
A concorrência não abalou o brasileiro. No dia seguinte, na semifinal, ele recuperou seu recorde ao nadar a distância em 21s34. Deixou a piscina satisfeito, mas ainda queria mais.
"Não é o número que almejo. Está anotado em um papel, conto depois da final", avisou. Era 20s98.
(MARIANA LAJOLO)



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