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NATAÇÃO
Recordes alheios motivaram campeão
Festival de quebra de marcas incentivou Cielo a ser mais rápido
Sensação do campeonato universitário dos EUA, nadado em jardas, atleta brasileiro transpôs tempos para a piscina olímpica
DA ENVIADA A PEQUIM
Quando os recordes mundiais dos 100 m e dos 50 m livre
começaram a cair em cascata
no início deste ano, César Cielo
ficou incomodado. O primeiro
impulso foi pedir a seu treinador para dar um tiro de 100 m e
mostrar que poderia ser tão rápido quanto os adversários estavam mostrando.
A idéia foi vetada. O australiano Brett Hawke sabia que
seu pupilo tinha talento e estava treinado o suficiente para
ser tão ou mais veloz do que os
maiores rivais, mas aquela ainda não era a hora de provar isso.
O brasileiro chegou aos Jogos Olímpicos de Pequim com
as marcas de 21s75 nos 50 m livre e 48s43 nos 100 m livre, ambas recordes sul-americanos.
Os tempos, porém, ainda o
colocavam longe dos recordistas mundiais. O francês Alain
Bernard marcara 47s50, e o
australiano Eamon Sullivan era
o mais veloz com 21s28. A sigla
LZR, do traje produzido pela
Speedo, já tinha entrado de vez
no vocabulário da natação.
O brasileiro era o atleta sensação do campeonato universitário dos EUA, disputado em 50
jardas (cerca de 45,7 metros).
Na piscina mais curta, em que é
mais fácil cumprir as distâncias, era recordista. Mas precisava transportar esses resultados para os 50 metros.
Também lhe faltava uma medalha em um campeonato de
nível global. No Mundial de
Melbourne, no ano passado,
havia amargado a quarta colocação nos 100 m livre.
"Eu sabia que podia nadar
mais rápido que eles. Eram
atletas que eu já tinha vencido
em competições", disse Cielo.
No Cubo d'Água, porém, a
pressão aumentou ainda mais.
Na abertura do revezamento 4
x 100 m livre, ele nadou em
47s91 e superou sua marca pessoal. Ganhou confiança.
Mas os rivais também estavam preparados. Na final da
mesma prova, Sullivan cravou
47s24. Nos 100 m livre, Bernard deu o troco, com 47s20.
Alegria que durou apenas até a
segunda bateria, quando Sullivan, então, baixou a marca para
impressionantes 47s05.
Abalado com seu resultado
ruim na semifinal, que o balizou na raia 8, Cielo teve de retomar a confiança. Na decisão, esqueceu os adversários que o
atormentaram e suas marcas,
focou apenas sua prova e ganhou o bronze, com 47s67.
Quando bateu a mão na parede e olhou para o placar, Cielo
gelou. Seu nome aparecia em
quarto. O nadador demorou alguns segundos para perceber
que havia empatado com o norte-americano Jason Lezak.
"Antes de competir, ele ainda
estava tenso com a velocidade
dos adversários. Uma hora
achava que iria conseguir, em
outras, que não ia. A medalha o
ajudou a ficar mais confiante",
afirmou o técnico Hawke.
O resultado da confiança foi
visto na piscina do Cubo d'Água. Nas eliminatórias, Cielo
marcou 21s47 e superou a melhor marca olímpica dos 50 m
livre, que pertencia a seu ídolo
Alexander Popov (RUS) desde
os Jogos de Barcelona-1992.
A alegria, entretanto, durou
somente uma bateria, até o
francês Amaury Leveaux cumprir a distância em 21s46.
A concorrência não abalou o
brasileiro. No dia seguinte, na
semifinal, ele recuperou seu recorde ao nadar a distância em
21s34. Deixou a piscina satisfeito, mas ainda queria mais.
"Não é o número que almejo.
Está anotado em um papel,
conto depois da final", avisou.
Era 20s98.
(MARIANA LAJOLO)
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