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FUTEBOL
Futebol sem violência
TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA
Apesar de muitas fracas
equipes, os campeonatos estaduais são importantes e emocionantes, desde que sejam curtos, com vários jogos decisivos e
com um número par de equipes.
Hoje, conheceremos muitos campeões. Cruzeiro e São Caetano
têm uma grande vantagem. A do
Flamengo também é boa. Mais do
que isso, essas três equipes possuem melhores jogadores. Porém
cuidado com a zebra.
Infeliz foi o Geninho ao dizer no
treino do Vasco "chute o tornozelo dele", na semana em que o Felipe machucou o tornozelo. O técnico disse que não se referia ao
Felipe. No mínimo, foi um ato falho, um desejo inconsciente, que
não poderia ser dito.
A linguagem agressiva dos técnicos, mesmo sem a intenção
consciente de estimular a violência, precisa acabar. Na emoção de
uma partida, o inconsciente do
jogador, numa fração de segundos, sem pensar, associa as palavras, os gritos e a postura agressiva dos treinadores com a violência. Foi o que aconteceu com o
Roger no Corinthians, quando o
então treinador Geninho gritou,
perto do lance, "pega, pega" (no
sentido de marcar de perto). E o
jogador pegou, deu um pontapé
no adversário.
Pior do que isso é a maioria da
imprensa achar que essa linguagem agressiva dos técnicos não
tem nenhuma importância. Os
treinadores (Parreira é uma das
poucas exceções) são uns dos responsáveis pelo absurdo número
de faltas e de expulsões e pela violência no futebol brasileiro.
Renovação
A convocação de quatro novos
jogadores (Edu, Bordon, Mancini
e Dedê) para o amistoso contra a
Hungria foi saudada pela maioria da imprensa como uma renovação. Não é bem assim. Nenhum
desses atletas será escalado e dificilmente um deles vai entrar e se
destacar durante a partida.
Esses jogadores são bons e estão
bem em seus clubes, mas será
uma surpresa se um deles se tornar ótima opção para a seleção.
Mancini é um excelente ala no
esquema com três zagueiros ou
um meia-direita no desenho tático com duas linhas de quatro. São
funções quase idênticas. Como
Parreira não mudará a forma de
jogar e disse que Mancini terá de
se adaptar à lateral, não adianta
convocá-lo. Na lateral, ele é igual
ou inferior ao Belletti. Mancini
deveria ser chamado para ser
uma opção diferente do Cafu.
Bordon é um zagueiro comum,
já bastante conhecido. Enquanto
isso, Edu Dracena, Luisão e Alex,
que podem evoluir bastante, não
têm chances. Da mesma forma,
Dedê, e não Dedé, não é superior
ao Júnior, ao Léo e ao Leandro.
Edu seria uma boa opção, se
atuasse como no Arsenal, ao lado
de outro volante, atacando e defendendo, e de um armador de
cada lado. No lugar do Gilberto
Silva, ele teria de atuar muito recuado, na frente dos zagueiros.
Se Zé Roberto, que tem mais velocidade e habilidade, não consegue defender como um volante
nem atacar como um meia, não
será o Edu, que não atua de meia-esquerda e que não tem características para isso, que fará bem essa dupla função.
A seleção não precisa de grandes mudanças, e sim corrigir os
erros (a equipe não teve uma ótima atuação desde a Copa) e convocar jogadores que podem evoluir e se tornarem ótimas opções.
E também criar variações táticas.
O time brasileiro está igual aos
da Europa, que atuam anos da
mesma maneira, durante os 90
minutos, seja qual for a história
da partida.
Volante-zagueiro
Na Copa de 2002, quando o rival tinha dois atacantes avançados pelo meio, Edmilson jogava
como um autêntico zagueiro, na
mesma linha ou atrás dos outros
dois. Quando havia apenas um
atacante, Edmilson atuava de volante, sem nenhum brilho.
Não se pode confundir uma linha de três zagueiros com o time
que joga com um volante mais recuado na frente de dois defensores. São situações diferentes.
No Mundial de 94, Mauro Silva
às vezes se tornava um terceiro
zagueiro, porém havia outro volante (Dunga) e mais dois armadores, que marcavam no campo
do Brasil. Na seleção atual, se o
Edmilson jogar de zagueiro, só
haverá dois no meio-campo.
Como o Parreira não vai escalar três zagueiros, Edmilson atuará de volante, recuado, marcando
e iniciando as jogadas ofensivas.
Nessa posição, o Brasil não tem
um único atleta excepcional, mas
há muitos melhores do que o Edmilson, como o Emerson.
E-mail
tostao.folha@uol.com.br
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