São Paulo, domingo, 18 de abril de 2004

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FUTEBOL

Futebol sem violência

TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA

Apesar de muitas fracas equipes, os campeonatos estaduais são importantes e emocionantes, desde que sejam curtos, com vários jogos decisivos e com um número par de equipes. Hoje, conheceremos muitos campeões. Cruzeiro e São Caetano têm uma grande vantagem. A do Flamengo também é boa. Mais do que isso, essas três equipes possuem melhores jogadores. Porém cuidado com a zebra.
Infeliz foi o Geninho ao dizer no treino do Vasco "chute o tornozelo dele", na semana em que o Felipe machucou o tornozelo. O técnico disse que não se referia ao Felipe. No mínimo, foi um ato falho, um desejo inconsciente, que não poderia ser dito.
A linguagem agressiva dos técnicos, mesmo sem a intenção consciente de estimular a violência, precisa acabar. Na emoção de uma partida, o inconsciente do jogador, numa fração de segundos, sem pensar, associa as palavras, os gritos e a postura agressiva dos treinadores com a violência. Foi o que aconteceu com o Roger no Corinthians, quando o então treinador Geninho gritou, perto do lance, "pega, pega" (no sentido de marcar de perto). E o jogador pegou, deu um pontapé no adversário.
Pior do que isso é a maioria da imprensa achar que essa linguagem agressiva dos técnicos não tem nenhuma importância. Os treinadores (Parreira é uma das poucas exceções) são uns dos responsáveis pelo absurdo número de faltas e de expulsões e pela violência no futebol brasileiro.

Renovação
A convocação de quatro novos jogadores (Edu, Bordon, Mancini e Dedê) para o amistoso contra a Hungria foi saudada pela maioria da imprensa como uma renovação. Não é bem assim. Nenhum desses atletas será escalado e dificilmente um deles vai entrar e se destacar durante a partida.
Esses jogadores são bons e estão bem em seus clubes, mas será uma surpresa se um deles se tornar ótima opção para a seleção.
Mancini é um excelente ala no esquema com três zagueiros ou um meia-direita no desenho tático com duas linhas de quatro. São funções quase idênticas. Como Parreira não mudará a forma de jogar e disse que Mancini terá de se adaptar à lateral, não adianta convocá-lo. Na lateral, ele é igual ou inferior ao Belletti. Mancini deveria ser chamado para ser uma opção diferente do Cafu.
Bordon é um zagueiro comum, já bastante conhecido. Enquanto isso, Edu Dracena, Luisão e Alex, que podem evoluir bastante, não têm chances. Da mesma forma, Dedê, e não Dedé, não é superior ao Júnior, ao Léo e ao Leandro.
Edu seria uma boa opção, se atuasse como no Arsenal, ao lado de outro volante, atacando e defendendo, e de um armador de cada lado. No lugar do Gilberto Silva, ele teria de atuar muito recuado, na frente dos zagueiros.
Se Zé Roberto, que tem mais velocidade e habilidade, não consegue defender como um volante nem atacar como um meia, não será o Edu, que não atua de meia-esquerda e que não tem características para isso, que fará bem essa dupla função.
A seleção não precisa de grandes mudanças, e sim corrigir os erros (a equipe não teve uma ótima atuação desde a Copa) e convocar jogadores que podem evoluir e se tornarem ótimas opções. E também criar variações táticas.
O time brasileiro está igual aos da Europa, que atuam anos da mesma maneira, durante os 90 minutos, seja qual for a história da partida.

Volante-zagueiro
Na Copa de 2002, quando o rival tinha dois atacantes avançados pelo meio, Edmilson jogava como um autêntico zagueiro, na mesma linha ou atrás dos outros dois. Quando havia apenas um atacante, Edmilson atuava de volante, sem nenhum brilho.
Não se pode confundir uma linha de três zagueiros com o time que joga com um volante mais recuado na frente de dois defensores. São situações diferentes.
No Mundial de 94, Mauro Silva às vezes se tornava um terceiro zagueiro, porém havia outro volante (Dunga) e mais dois armadores, que marcavam no campo do Brasil. Na seleção atual, se o Edmilson jogar de zagueiro, só haverá dois no meio-campo.
Como o Parreira não vai escalar três zagueiros, Edmilson atuará de volante, recuado, marcando e iniciando as jogadas ofensivas. Nessa posição, o Brasil não tem um único atleta excepcional, mas há muitos melhores do que o Edmilson, como o Emerson.

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