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GUERRA FRIA
CHINA >> RAUL JUSTE LORES
E a China chorou
FOI O MOMENTO mais
espontâneo da torcida
chinesa nesta Olimpíada. Após a desistência do ídolo
nacional Liu Xiang, nos 110 metros com barreiras, centenas de
torcedores deram as costas para os demais barreiristas que
ainda disputariam a eliminatória e deixaram o estádio.
A multidão derramava lágrimas por todos os lados. Não há
campanha de moral e cívica
que faça uma torcida dissimular o sofrimento e fazer de conta que a vida continua. Nem 37
medalhas de ouro compensam
a contusão do adorado Liu.
Até então, estava tudo muito
ensaiado, obedecendo aos
scripts estipulados pelo governo chinês. Há pelo menos 70
mil "torcedores" recrutados
pelo regime para preencher lugares vazios em estádios e ginásios. Estranhamente, todos os
ingressos dessas competições
estavam vendidos.
Mas as línguas bem-informadas de Pequim dizem que o
Partido Comunista ficou com
milhares de ingressos para
aqueles com bom trânsito palaciano. Justamente os mesmos
lugares vips que deixam clarões
percebidos pela TV.
Os fãs ensaiados também
torcem fervorosamente com
bandeiras de países que nunca
ouviram falar - sempre com o
gestual que a propaganda governamental ensinou.
O comportamento comedido
se repete com chineses que
compraram seu ingresso. Pelo
menos, eles não ficarão conhecidos mundo afora pelo espírito
nada esportivo apresentado
por torcedores no Pan do Rio.
Em nenhum caso, nem contra o
histórico rival Japão, há vaias
ou ataques da arquibancada a
atletas estrangeiros.
Nada que se pareça à gritaria
liderada pelo ex-jogador de
basquete Oscar - "Vai cair, vai
cair" -, que ele puxou contra
ginastas estrangeiros no Pan,
bem no momento em que eles
mais precisavam de concentração. Para os atletas em campo,
mesmo os que jogam contra a
China, os aplausos discretos
são um alívio.
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