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PROFISSÃO MANAGER
Na concentração do Cruzeiro, técnico decide até mesmo o que os jogadores assistem na TV
"Hotel Luxemburgo" sintetiza o poder
DO ENVIADO A BELO HORIZONTE
Nada sintetiza melhor o poder
de Wanderley Luxemburgo no
Cruzeiro do que o hotel-concentração que o clube possui na Toca da Raposa II, centro de treinamento que ocupa 86 mil metros
quadrados num bairro nobre de
Belo Horizonte, a Pampulha. Assim como no cofre, lá o técnico
também tem a chave nas mãos.
Luxemburgo controla absolutamente tudo o que acontece no
prédio, até a programação de TV
nos quartos dos jogadores.
Um sistema de circuito fechado permite que fitas editadas
com jogadas dos rivais e do próprio Cruzeiro sejam mostradas
em horários pré-determinados.
Quando a ocasião exige, o treinador reúne todo o grupo num
moderno auditório com capacidade para 48 pessoas.
O dia do técnico começa sempre com uma visita ao prédio,
onde lê os cadernos de esporte
de vários jornais.
O hotel tem 17 quartos, um deles só para o treinador -os jogadores dividem os outros.
No refeitório, as regras são rígidas. Um aviso na parede informa que a comida é retirada do
balcão tipo self-service exatamente uma hora depois de os jogadores iniciarem as refeições.
"Nosso hotel permite controlar a alimentação e a recuperação dos jogadores. É fundamental para se fazer um trabalho "full
time" com o elenco", afirma o
treinador, orgulhoso.
A sala de musculação, avaliada
em US$ 160 mil, é outro orgulho
do técnico -e mais uma maneira tecnologicamente avançada
de ele controlar seus pupilos.
Cada atleta possui um cartão
magnético que registra, automaticamente, carga e intensidade
dos trabalhos realizados.
Na prática, isso significa que é
impossível ludibriar os auxiliares do vigilante treinador.
Especialista em motivação, o
técnico conta com um recurso
extra: boa parte dos quartos tem,
como vista, o Mineirão, palco
onde o time costuma se exibir.
O silêncio só é quebrado, de
tempos em tempos, pelo sobrevôo de aviões comerciais -o aeroporto da Pampulha fica a poucos quilômetros do local.
"O Cruzeiro te dá condições de
trabalho", diz Luxemburgo, que
admite nunca ter tido tantos recursos à disposição.
Palavrões e frisson
O trabalho de Luxemburgo é
acompanhado de perto pela torcida, que tem acesso diário ao
CT. O local virou ponto turístico.
Prova disso é que, hoje, é preciso fazer reserva para conhecer
as instalações -e a obtenção do
sinal verde, diante da procura,
pode levar mais de 40 dias.
Não há arquibancada na Toca
da Raposa II: a torcida fica distribuída em prosaicos bancos, no
estilo pracinha do interior.
Dali, o frisson é inevitável
quando Luxemburgo se dirige a
seus comandados com palavrões. Seu estilo durão ainda
choca a recatada platéia.
Os jogadores, entretanto, já se
renderam ao comandante. Por
toda parte, só se ouvem elogios à
sua forma de dirigir o grupo.
"Por causa dele, hoje me sinto
um jogador melhor", afirma o
atacante Mota, 22, que jogava no
Ceará. "O Luxemburgo é o melhor técnico do Brasil", crava o
lateral Maurinho, 25, campeão
brasileiro em 2002 e que o técnico foi buscar no Santos. "Ele é
como um pai para mim", conclui Alex, 26.
(ALEC DUARTE)
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