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o maratonista
Vale tudo na areia de Mikonos: em cenas de mundo animal, homens e mulheres, vorazes, se bicam, se lambem e se apalpam, e o animador das festinhas se veste apenas com um hamster de pelúcia
Ilha da FANTASIA
PAULO SAMPAIO
ENVIADO ESPECIAL A MIKONOS
A primeira coisa que se deve fazer ao chegar a Mikonos é acertar
o relógio com o fuso horário local:
meia-noite, happy hour; meio-dia, ainda tem gente dançando;
meio da tarde, recomeça o baticum, na praia. Dormir, pra quê?
"Não consigo fechar os olhos
quando venho a Mikonos. Fico
muito ansiosa, sem saber se estou
perdendo alguma festa", diz Despina Zizimou, 27, com um micro
short de palmeirinhas que faria a
Sheilla do Tchan repensar todo o
seu guarda-roupa.
Duas praias dividem a preferência dos "ansiosos" no verão: Paradise e Super-Paradise. Há quase
mais italianos do que gregos.
"Mamma mia!", balbucia o estudante de engenharia Giuseppe
Delia, 20, olhando na direção de
um grupo de meninas e rapazes
semidespidos, que dança alegremente em cima da mesa.
Ele conta que chegou à cidade
na noite anterior, mas já gostou.
Ficou com alguém? "Piú... Tante!", exclama. Giuseppe está enrolado na cintura com uma canga-bandeira do Brasil, que diz ter
comprado em Florença por 15.
Não é o único. O corretor de imóveis Alessio Vallorani, 21, de Roma, e o advogado Francesco Assante, 26, de Milão, trajam modelitos verde-e-amarelo.
"Faço o maior sucesso com essa
canga. Os homens
acham que você joga
bem futebol, e as mulheres, que é bom de cama", diverte-se Alessio.
Um animador diz coisas a esmo, com um microfone na mão e a bunda de fora, em cima de
um pedestal: na parte da
frente ele veste apenas
um tapa-sexo de pelúcia
com a figura de um
hamster.
Em uma das espreguiçadeiras, as japonesas
Setsuko Ikuta, 34, e Novijo Komura, 31, posam
para uma foto ao lado
do eletricista parrudão
Costas Michoglou, 30:
com coquetéis de frutas
encimados por fatias de
melancia, as duas morrem de rir à japonesa, enquanto
Costas dá um beijo na orelha de
Setsuko:
"Que tipo de lugar é esse!?", pergunta ela. "Vim pra cá achando
que iria encontrar praias tranqüilas e ruínas. Estou surpresa", diz.
Em Super-Paradise, o aviso vem
antes da praia: uma placa diz "Entrance", como se o banhista estivesse indo a um parque de diversões, e não dar um mergulho.
Metade da praia tem freqüência
gay, o resto é mezzo-calabreza,
mezzo-califórnia. No canto assumido, uma mulher pelada faz cafuné no cabelo da companheira,
ambas deitadas de ladinho na toalha estirada.
E tabum-tabum-tabum, música
bombando. Do outro lado, italianos e gregos reproduzem com gatinhas de biquíni cenas típicas do
Animal Planet: sem dar uma palavra, eles se bicam, se lambem, se
apalpam, puxam os cabelos, em
golpes rápidos e instintivos.
"Estou aqui só para passar o fim
de semana", diz o engenheiro mecânico Sakis Atsalis, 26, que pratica malabarismos com uma loura
que ele acabou de conhecer: sentados em cima de uma mesa, ele
investiga a retaguarda da moça,
enfiando a mão na parte de baixo
do já pequeno biquíni dela, enquanto aplica chupões por todo o
seu lombo. Empolgada, ela sobe
na mesa, requebra na direção do
nariz dele e se deixa girar em seus
braços, como um malabar.
Mais tarde um pouco,
lá pelas 21h, o povo todo
migra para o que eles
chamam nas ilhas de
Chora (lê-se "Rora" e
quer dizer vila, centro da
cidade). Nesse momento, as ruas muito estreitas de Mikonos se transformam em um misto de
Feira da Bondade com
Fashion Week: na passarela engarrafada, transeuntes dispostos a fazer
o bem se olham gulosos,
enquanto desfilam sua
criatividade em modelitos estilo o céu é o limite.
"A melhor coisa é ficar
olhando o movimento",
dizem as cinqüentonas
Angeliki e Athina, sentadas em um bar na primeira fila do desfile.
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