São Paulo, domingo, 23 de junho de 2002 |
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CARLOS ALBERTO PARREIRA Não há uma nova hierarquia do futebol
Todos os especialistas estão se esforçando para explicar os resultados desta Copa. Como coreanos, senegaleses e americanos desbancaram as grandes potências? Não resta dúvida de que essas seleções melhoraram e que as diferenças entre as seleções já não são tão grandes. Acho essa "globalização" bem-vinda. As "equipes pequenas" jogaram não só para cumprir ritual de simples sparring. Entraram em campo acreditando na vitória. Conseguiram! O intercâmbio de técnicos e jogadores também ajudou muito na escalada. Senegal e Camarões têm seus jogadores atuando no exterior. Coréia, Japão, EUA e Turquia também têm vários jogadores em times da Europa. Assim, as táticas e as estratégias de jogo foram bem assimiladas. Some-se a isso o tempo de preparação que tiveram e o pouco desgaste dos seus principais jogadores -quase nenhum se comparado, por exemplo, ao das principais estrelas da França, Argentina e Itália. Os esquemas táticos também são provas da "globalização do futebol". Todos usam modelos muito parecidos -os conhecidos 4-4-2, 3-5-2 e 3-4-3. O que está fazendo mesmo a diferença é a forma e a dinâmica de jogo. Nesse aspecto, lembro-me do velho e sempre atual conceito de Sepp Herberger, técnico da seleção alemã campeã mundial de 1954, que dizia que uma equipe para ter sucesso tem que atacar e defender com máxima eficiência. Lembre-se: Inglaterra (1966), Brasil (1970), Alemanha (1974) e Argentina (1986). De certo modo é o que está ocorrendo em 2002. Quem aprendeu a lição está se dando bem -com mais ou menos qualidade. A Coréia é um bom exemplo disso. O Brasil, que brilhantemente ganhou da Inglaterra, é outro exemplo. Que venha, então, o futebol globalizado, com todo mundo jogando igual. Para o Brasil, isto é simplesmente maravilhoso. Por mais rígidas que sejam as táticas, a nossa imprevisibilidade fará a diferença. Salve a criatividade individual dos nossos jogadores. Nisso somos insuperáveis -como estão provando os três "erres". Acho muito apressadas as conclusões de que há uma nova hierarquia no futebol mundial. Se na próxima Copa estas equipes repetirem ou se aproximarem dos feitos conquistados no Mundial-2002, concordarei com a "nova hierarquia" do futebol. Até lá, aguardemos. Carlos Alberto Parreira, 59, foi o técnico campeão da Copa de 1994, nos EUA, e atualmente dirige o Corinthians Texto Anterior: Sonhinha: Não somos imbatíveis (mas ninguém é...) Próximo Texto: José Geraldo Couto: O perigo agora é o "já ganhou" Índice |
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