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VÔLEI
Para vencer, seleção larga vaidade e cria músculos
Zé Roberto convence atletas da necessidade de fortalecer os braços Para vencer, seleção larga vaidade e cria músculos
Jogadoras deixaram de dar prioridade aos exercícios para pernas e glúteos e se prepararam para pancadas em treinos contra homens
DOS ENVIADOS A PEQUIM
As seleções de vôlei do Brasil
sempre foram marcadas pelo
sucesso das jogadoras dentro
da quadra -e pela badalação
das musas da equipe fora dela.
Para chegar à inédita final
olímpica e conquistar a medalha de ouro, no entanto, o técnico Zé Roberto deu início a uma
cruzada contra a vaidade e incorporou elementos até então
pouco usados nas seleções femininas de vôlei e ao repertório
habitual de suas atletas.
A primeira missão era fortalecer os músculos das jogadoras, criar braços fortes para ganhar cortadas mais potentes.
"Não é tradição da brasileira
gostar de malhar os braços, elas
preferem exercícios para as
pernas, para os glúteos. Mas,
quando começaram a ver o resultado dentro da quadra, passaram a gostar mais", disse o
técnico, que recorreu até a treinos de levantamento de peso.
Antes da convocação para os
Jogos de Pequim, Zé Roberto
também deu um alerta às atletas: não aceitaria ninguém fora
de forma em sua equipe.
"Atenção com o físico, com o
bumbum, bumbum grande é sinal de desleixo, de culote. A
gente quer estar bem em todos
os sentidos para poder sonhar
com uma medalha para o Brasil", afirmou o técnico à época.
Zé Roberto, porém, não conseguiu realizar todas as suas
ambições. Se dependesse de
sua vontade, as jogadoras teriam os cabelos bem curtos, para não correrem o risco de serem atrapalhadas pelos rabos
de cavalo em quadra.
"Essa idéia foi a única que
não pegou mesmo", brincou
Paula Pequeno. "A gente gosta
de cuidar do cabelo. Mas essa
vaidade nunca vai atrapalhar
nosso jogo", completou a ponta, que, ao lado da central Walewska, foi a que mais chorou
logo após o encerramento do
jogo que rendeu o ouro.
Corpos prontos, Zé Roberto,
campeão com a seleção masculina em Barcelona-1992, passou também a incorporar elementos pouco usados nos jogos
femininos ao repertório do time, como o bloqueio triplo.
Para ajudar as atletas a se
acostumar com as pancadas de
equipes que apostam no jogo
pesado, a seleção também passou a empregar homens durante os treinos no CT de Saquarema e em jogos-treino. No Japão, onde o grupo fez aclimatação, o Brasil disputou partidas
contra equipes masculinas.
O técnico, porém, também
teve preocupações bem femininas. Para evitar ter de lidar com
a TPM nos Jogos Olímpicos,
tentou controlar com hormônio a menstruação das atletas.
Falhou em alguns casos.
"Não podia ser de outro jeito.
Algumas jogadoras ficaram
mais irritadas e sensíveis, mas
não foi nada demais", afirmou.
"Em 2004, após a derrota na
semifinal, o [Nicolai] Karpol
[então técnico da Rússia] disse
que queria me dar um conselho. Falou que eu deveria ser
mais fiel às mulheres [à época,
Zé Roberto acabara de voltar ao
time após comandar times
masculinos e flertar com o futebol]. Aceitei o conselho dele."
(EDGARD ALVES E MARIANA LAJOLO)
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