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ATENAS 2004
Dos 245 brasileiros nos Jogos, 23 já passaram pelas mãos do ortopedista Wagner Castropil e de sua equipe
"Dr. Olímpico" dá assistência grátis a atleta
DANIEL BUARQUE
LUÍS FERRARI
DA REPORTAGEM LOCAL
No ritual de formatura, todo
médico faz o "Juramento de Hipócrates" -uma espécie de código de ética da profissão, cunhado
na Grécia Antiga. Um dos compromissos que os profissionais
assumem é exercer o ofício, mesmo "sem remuneração".
Um dos poucos médicos que
que observam esse preceito hoje
em dia é o ortopedista Wagner
Castropil, 38, idealizador de uma
ONG que presta gratuitamente
serviço a esportistas. Sua equipe
-dez médicos, 20 fisioterapeutas
e uma nutricionista- dedica dois
períodos semanais ao atendimento voluntário de atletas.
O projeto, que existe há dois
anos, já atendeu 2.000 pacientes
-entre eles, quase um décimo da
delegação brasileira que vai a Atenas. A média é de cem consultas
mensais e uma cirurgia semanal.
Para arcar com os custos, o grupo
tem parcerias com um hospital
paulistano, laboratórios e empresas de material cirúrgico.
O líder da iniciativa, que estará
nos Jogos de Atenas, conta que o
embrião do programa surgiu
quando era atleta. "Em 1985, tive
que operar os dois ombros. Não
achava profissionais especialistas
em atletas e havia o problema financeiro. Só fui operado no hospital da USP porque era aluno."
Hoje, o competidor que precisa
de cirurgia não precisa mais passar no vestibular para medicina. É
o caso do saltador Cassius Duran,
25. Aos 15 anos, Duran começou a
sentir dores nas costas. Durante
dois anos, procurou mais de 30
médicos que diagnosticavam o
problema como uma contratura.
Castropil descobriu que ele tinha duas fraturas na região lombar da coluna e se ofereceu para
fazer uma cirurgia de correção do
problema. "Não tinha condição
de pagar, mas fui atendido normalmente. Depois da operação,
passei um ano com acompanhamento semanal", afirmou Duran.
A fama de Castropil se espalhou
entre os atletas. Ao Pan de Santo
Domingo, ele foi como médico da
equipe de judô, mas ofereceu suporte a todas as modalidades.
"Achava que ele era médico de toda a delegação brasileira", disse a
ginasta Fernanda Trotta.
Habituada a se consultar com o
médico quando vivia em São Paulo, ela continuou procurando seus
conselhos mesmo depois de a seleção de ginástica rítmica se concentrar em Londrina. "Telefono
para o Castropil sempre que tenho um problema. Se preciso, ele
me atende nos finais de semana,
quando posso viajar a São Paulo."
Os dez pacientes que vão a Atenas ouvidos pela Folha foram
unânimes ao afirmar que o diferencial no tratamento é o fato de o
médico ter sido atleta.
Tanto que mesmo quem pode
pagar o tratamento procura seu
grupo. "Até o Pelé foi operado de
uma artrose no punho por nossa
equipe", lembrou Castropil.
A meta da ONG é conseguir
identificar um padrão de lesões de
cada modalidade, para elaboração de treinos preventivos. Assim,
não serão só os atletas contundidos os beneficiados pelo grupo.
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