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ATENAS 2004
Osmar Barbosa, esperança de pódio nos 800 m na Grécia, faz em estrada de terra preparação pés no chão
Treino na roça é trunfo de meio-fundista
ADALBERTO LEISTER FILHO
ENVIADO ESPECIAL A MARÍLIA
Poucos competidores do circuito internacional de atletismo contam com um local para treinos
bem ao lado de casa. Osmar Barbosa dos Santos, 35, uma das esperanças de medalha do Brasil na
Olimpíada, tem esse privilégio.
Mas sua pista não tem piso emborrachado e medidas oficiais. Ele
faz sua preparação em uma estrada de terra, ao lado de sua casa,
em Rosália, distrito de Marília
(444 km a noroeste de São Paulo).
"Estou acostumado a treinar na
terra. Até estranho quando vou
passar um período longo na pista
dura", conta Barbosa, que reclamou de dores em Big Bear (EUA),
em abril, durante treino promovido pela confederação brasileira.
"Não conheço nenhum atleta de
ponta que faça corrida semelhante. Esse é o meu segredo. Escondo
ele ao máximo", afirma ele. "Nunca tive problema no joelho, nem
passei por cirurgia", gaba-se.
O atleta só vê a pista sintética em
competições. Foi dessa maneira
pouco usual que ele surpreendeu
a todos e ficou com o bronze no
Mundial indoor de Budapeste,
em março. Barbosa recolocou o
Brasil no pódio em uma prova de
meio-fundo na pista coberta, fato
que não ocorria havia 15 anos.
"Meu objetivo era a prata. Fiquei preocupado com os três que
ficaram atrás de mim e não percebi o outro [Rashid Ramzi], que
me ultrapassou. Foi frustrante."
Talento descoberto tarde, Osmar começou a correr aos 25
anos. Em seguida, tentou patrocínio na prefeitura. "Quando o secretário de esporte soube minha
idade, não deu. "Esse aí está muito
velho." Hoje ele é meu amigo."
Sem dinheiro, o ex-bóia-fria parecia fadado a retornar à casa dos
pais e ao campo. "No primeiro dia
cortei lenha com machado e fiquei com a mão cheia de calos.
Resolvi tentar de novo a pista."
O caminho para lá foi tortuoso.
Barbosa viveu uma época em que
alternava treinos com a atividade
de instrutor de musculação. À
noite fazia bico como segurança
da boate Avenue. "Meu chefe dizia que gostava de minha atitude", diz Barbosa, que não tem um
físico avantajado (1,75 m e 68 kg).
De volta à rua, correu em busca
do sonho de ir à Olimpíada. Deu
certo. Descoberto pelo técnico
Luiz Alberto de Oliveira, o mesmo que revelou Joaquim Cruz,
Barbosa fez índice nos 400 m e foi
aos Jogos de Atlanta-96.
Três anos depois, foi disputar
um GP nos EUA. Voltando de lesão, resolveu correr os 800 m. Ficou em segundo. Duas semanas
depois, venceu a distância no Troféu Brasil. Aos 31, tinha descoberto a sua prova favorita, que o levou aos Jogos de Sydney-00.
"Tenho bons resultados há três
anos, mas não aparece patrocínio", lamenta Barbosa, dono do
prêmio de melhor índice técnico
do Troféu Brasil em 2002 e 2003.
O atletismo ao menos o levou a
treinar em locais distantes como
Manaus, Rio e San Diego. Mas nenhum lugar é melhor do que a sua
terra. "Sinto muito a falta da família. Quando viajo, ligo para a minha mãe todo dia", conta o único
solteiro entre nove irmãos.
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