|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
RESUMÃO/ HISTÓRIA
A palavra é um coquetel molotov!
FLAVIO DE CAMPOS
ESPECIAL PARA A FOLHA
México. 1968. Olimpíada. No
pódio, dois atletas negros dos
EUA, John Carlos e Tommy
Smith, primeiro e terceiro colocados, usando luvas pretas, fazem
uma saudação com o punho cerrado e erguido. O protesto dirigia-se contra o racismo nos Estados
Unidos. O gesto -uma alusão ao
grupo radical Panteras Negras-
provocou severas punições aos
corredores por parte do comitê
olímpico.
Àquela altura, o mundo vivia
uma impressionante efervescência. Os EUA estavam envolvidos
na Guerra do Vietnã e patrocinavam ditaduras na América Latina.
Cuba tornava-se modelo para os
revolucionários de todo o continente. Ernesto Che Guevara,
morto em 1967 na Bolívia, firmava-se como a imagem da rebeldia
de sua geração.
A contestação era a marca da juventude. As minissaias e os biquínis expunham com ousadia os
corpos femininos. A pílula anticoncepcional liberava as práticas
sexuais. Em lugar dos ternos e
gravatas, do cabelo curto e dos valores da sociedade de consumo,
os jovens usavam jeans, cabelos
longos e acreditavam em sociedades igualitárias. "Black Power";
"Make love, not war"; "Sex, drugs
and rock'n'roll". Ainda em 1968,
os estudantes tomaram as ruas de
Paris, Praga e Washington com
slogans desafiadores: "É proibido
proibir!"; "Chega de atos, queremos palavras!"
No Brasil, a ditadura instalada
em 1964 era questionada nas ruas.
De um lado, bombas de gás e cavalaria. De outro, coquetéis molotov e muitas palavras de ordem.
Em junho de 1968, na Guanabara, uma passeata reuniu 100 mil
pessoas, divididas por dois slogans: "Só o povo organizado derruba a ditadura" e "Só o povo armado derruba a ditadura".
Em dezembro, o governo impunha o Ato Institucional nš 5. O
Congresso Nacional era fechado e
estavam suspensos todos os direitos civis e constitucionais. A imprensa passava a ser censurada.
Ocorreram centenas de prisões e
cassações políticas. A mordaça
que calava as palavras de ordem
fazia ecoar os gritos daqueles que
eram submetidos à tortura nos
porões da ditadura.
Consolidava-se, assim, o Estado
de Segurança Nacional, que identificava, como seus inimigos internos, setores da sociedade tidos
como agentes internacionais do
comunismo. A oposição ao regime era considerada oposição à
nação, e criticar o governo, uma
ação antipatriótica. Estudantes,
intelectuais e escritores eram suspeitos. Um slogan autoritário faria sucesso entre os apoiadores da
ditadura: "Brasil: ame-o ou deixe-o". E a luta armada ganharia corpo entre os jovens.
Flavio de Campos é autor de "Oficina de
História", da Editora Moderna, e professor de história do Colégio Móbile
Texto Anterior: Resumão/Matemática - José Luiz Pastore Mello: Fique de olho na taxa de variação Próximo Texto: Resumão/Geografia - Márcio Masatoshi Kondo: A riqueza da floresta amazônica Índice
|