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CINEMA
Estúdios aproveitam a disputa pela Presidência dos EUA para lançar produções de temática política e críticas a Bush
Com eleição, Hollywood alavanca filmes
SHARON WAXMAN
DO "NEW YORK TIMES"
Ao desligar-se de "Fahrenheit 11
de Setembro", a Disney reafirmou
a idéia corrente em Hollywood segundo a qual filmes políticos costumam ser fracassos de bilheteria
-e também uma maneira rápida
de fazer inimigos poderosos. Na
última sexta, porém, a Paramount
desafiou as tradições, lançando
um thriller político repleto de
grandes nomes que transforma
em vilã a rede de amizades que
une grandes empresas a políticos
e autoriza comparações com os
vínculos do governo Bush com a
empresa Halliburton.
(A Halliburton é uma empresa
texana de petróleo que já foi chefiada pelo atual vice-presidente
dos EUA, Dick Cheney; é acusada
de lucrar indevidamente com a
guerra, após fechar contratos de
bilhões de dólares com as Forças
Armadas americanas no Iraque.)
Estreando logo após a convenção nacional do Partido Democrata, "Sob o Domínio do Mal",
com Denzel Washington e Meryl
Streep, é uma versão atualizada
do clássico homônimo de 1962.
Entre os criadores do filme há
democratas ardentes, ex-partidários de Bush hoje decepcionados
com o presidente e a chefe da Paramount, Sherry Lansing, uma
das primeiras defensoras de John
Kerry em Hollywood. E, embora
o filme se declare não partidário,
sua mensagem é inegavelmente
crítica em relação ao status quo.
O filme original, estrelado por
Frank Sinatra e que mostrava um
assassinato político, foi tirado de
cartaz após a morte de John Kennedy, em 63. No novo filme, uma
empresa sinistra, a Manchurian
Global, lucra com as guerras americanas e conspira para colocar no
poder um candidato à vice-presidência controlado por ela. Os responsáveis pelo filme reconhecem
que a Manchurian faz referência à
Halliburton, embora o roteiro tenha sido escrito antes de a empresa tornar-se alvo de críticas.
"Sou obcecado por idéias sobre
coisas como o complexo militar-industrial", disse o diretor, Jonathan Demme. "Mas foi apenas
nos últimos dois anos que essa
área começou a ganhar espaço
nas revistas e jornais."
A Paramount mergulhou num
jogo delicado de equilíbrio com o
filme, tentando evitar que seja rotulado de partidário. O candidato
fantoche, representado por Liev
Schreiber, não é filiado a nenhum
partido no roteiro, e, nas últimas
semanas, o estúdio vem exibindo
o filme tanto a democratas quanto a republicanos.
Lansing afirmou não ter tido
motivação política nem na escolha de fazer o filme nem na de lançá-lo neste momento. "É claro
que sou democrata. Não escondo
o fato. Mas não estou querendo
promover minha pauta democrata com o filme, e a prova disso é
que dei luz verde para ele há dois
anos, antes da guerra no Iraque."
Segundo ela, alguns republicanos que já assistiram ao filme
vêem o personagem de Schreiber
-um condecorado veterano de
guerra, filho de família rica- como representando o senador
Kerry, o provável candidato democrata à Presidência.
Antes de tudo, "Sob o Domínio
do Mal" é um trabalho de entretenimento comercial que custou
US$ 80 milhões e que tem por objetivo dar lucro. Mas seu lançamento coincide com a estréia de
um número incomum de filmes
de orientação política, na véspera
da temporada eleitoral nos EUA.
Vários documentários políticos,
todos críticos da administração
Bush, vão chegar aos cinemas nas
próximas semanas, beneficiando-se do sucesso comercial de "Fahrenheit 11 de Setembro".
Na condição de divisões de
grandes conglomerados que têm
ampla gama de interesses, os estúdios de Hollywood vêm se tornando cada vez mais ariscos diante de filmes de conteúdo polêmico, quer este seja sexual, religioso
ou político. Muitos dos mandantes mais poderosos em Hollywood são pessoalmente liberais, e
políticos conservadores freqüentemente fazem uso da Hollywood
liberal para realçar seus objetivos.
De maneira geral, porém, os estúdios e suas empresas mães têm
relutado em espicaçar Washington na tela grande, cientes de que
os políticos podem decidir seu
destino em questões como a propriedade de emissoras de TV e
sistemas de TV a cabo.
"Sob o Domínio do Mal" vinha
sendo desenvolvido há mais de
dez anos. Tina Sinatra herdou de
seu pai os direitos sobre o romance de Richard Condon e tentou
durante anos fazer um remake.
Então, semanas depois do 11 de
Setembro, ela conversou com
Lansing, que é sua amiga, e as
duas acharam que o filme teria
público interessado.
Durante o processo de criação
de "Sob o Domínio...", em vários
momentos o roteiro foi superado
pelos acontecimentos mundiais
ou se viu refletido nas manchetes.
Os diálogos foram reescritos
constantemente e os elementos de
fundo foram modificados de modo a refletir os fatos do momento,
como a discussão em torno da
adoção de urnas eletrônicas e os
ataques terroristas a trens em Madri, na Espanha, em 11 de março.
Tradução de Clara Allain
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