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COMENTÁRIO
Maria Clara cinta-larga faz justiça com as próprias mãos
MARCOS AUGUSTO GONÇALVES
EDITOR DE OPINIÃO
Maria Clara trancafiou-se
com Laura no banheiro e
desferiu 30 sopapos na bandida,
numa espécie de encenação sadomasô perfumada da justiça com
as próprias mãos. Catarse geral.
Façamos um paralelismo esquemático entre crime e castigo
na novela e na vida real. O fio condutor da novela é o embate entre
o mal e o bem. Quando o mal se
apodera da situação, todos sabem
que, mais dia, menos dia, ele será
punido. O mal em "Celebridade"
é Laura. A fofa, encarnada por
uma inspirada Cláudia Abreu, é a
síntese do que há de ruim. Estava
marcada para ser punida -e milhões aguardavam por isso, destilando diariamente rios de ódio
contra a malvada.
Na vida real brasileira, porém, a
inevitabilidade da punição pode
ser um princípio, uma idéia, um
desejo, mas não uma garantia,
posto que o mal cada vez mais
passeia por aí impunemente.
Em qualquer caso, no folhetim
ou no drama real, a punição é o
resultado de um processo, cheio
de mediações. É preciso tempo
para que ele se cumpra. Na realidade, o castigo é precedido de investigação, prisão, julgamento.
Na novela, de um enredo rocambólico, que costuma reservar para
o final a grande vingança.
Acontece que o país está muito
impaciente para esperar processos. Há uma sede de vingança no
ar. As pessoas querem ir direto ao
assunto. A sociedade, cansada de
violência e corrupção, está pronta
para linchar. Quer malhar o Judas. Assumir a porção cinta-larga.
E foi esse desejo coletivo que
"Celebridade" contemplou. Poupou o público de uma espera dilacerante. Antecipou a punição. O
bem, representado por Maria Clara, estava bonzinho demais. Assim não dá. Não somos otários.
Então, vamos lá: porrada na sem-vergonha sem processo ou mediação. De alma lavada, restou no
dia seguinte uma ponta de culpa.
Maria Clara duvidou se havia feito o certo. Deixou a coitada com
cara de vampiro, sem dente, numa maquiagem cômica, que ajudou a aliviar a cena (toda ela caricata e ruim) de um realismo que
poderia ter sido ainda pior.
A culpa não durou muito. A
amiguinha aprovou -e com ela o
público. Maria Clara é do bem,
mas não é trouxa. Fez o que se pedia. Justiça já. Direta. Com as próprias mãos.
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