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Autor diz que queria exibir beijo gay e que, se fosse ministro, não liberaria sua novela para antes das 21h
"A TV deve fornecer de tudo, como uma padaria"
DA REPORTAGEM LOCAL
FREE-LANCE PARA A FOLHA, DO RIO
Manoel Carlos não esconde:
gosta de criar polêmica. "É o que
faz a novela ultrapassar seu horário de exibição, transbordando
para o dia seguinte, com comentários nas ruas", diz o autor de
"Mulheres Apaixonadas".
Se dependesse dele, o primeiro
beijo lésbico em uma novela iria
ao ar em sua trama, entre as adolescentes Clara e Rafaela. E o autor
admite que, se fosse ministro, não
liberaria sua novela para antes das
21h (há cerca de um mês, "Mulheres", antes liberada para as 20h,
foi reclassificada para as 21h). Leia
trechos da entrevista que ele concedeu à Folha.
(LAURA MATTOS E CLÁUDIA CROITOR)
Folha - Se a história do Brasil
atual fosse uma novela, seria das
seis, sete ou oito? Com qual título?
Manoel Carlos - Seria um mix das
três, mais "Malhação", das 17h. Isso pela necessidade de atingir a
todas as faixas etárias, para que
todos tenham um retrato das
transformações pelas quais este
país está passando e pela esperança de que ele alcance seus ideais.
Folha - Se o sr. fosse ministro da
Justiça, "Mulheres Apaixonadas"
teria qual classificação?
Manoel Carlos - A classificação
que tem: 21h. Sempre batalhei para que não entrasse antes desse
horário, desde "Laços de Família". Não vejo impropriedade para
o horário anterior, 20h50, mas um
pouco adiante é ainda mais adequado e melhor para a audiência.
Folha - TV deve educar, entreter,
informar, tudo isso ou nada disso?
Manoel Carlos - A TV é um veículo democrático. Ali está uma
grade de programas à disposição
de quem ligar o aparelho: num casarão ou numa choupana. A TV
está obrigada a fornecer de tudo,
como uma boa padaria: do pãozinho ao brioche. Informar e entreter com responsabilidade. E bem
informar e entreter com bom nível é educar. Acima de tudo, o que
a TV não deve fazer é deseducar,
informando errado, com parcialidade e distorção.
Folha - Pela primeira vez, um casal de lésbicas ganha simpatia do
público. Quando o sr. acredita que
virá o beijo gay em horário nobre?
Manoel Carlos - Gostaria que esse beijo se realizasse na minha novela, com Clara e Rafaela, mas
penso que ainda seja prematuro.
De qualquer modo, tem sido gratificante verificar a aceitação às
meninas, que são personagens
positivos, sinceros. Tenho muito
cuidado ao enfocar o assunto em
cada cena, porque meu interesse
único é revelar que existe dignidade e beleza em todas as opções sexuais, e não afrontar as pessoas
que pensam diferente de mim.
Folha - Reescreveria algum capítulo que já foi ao ar? Por quê?
Manoel Carlos - É comum eu assistir e não gostar do que escrevi
em determinada cena. Ou porque
o texto ficou duro, pouco coloquial, ou porque não fui suficientemente claro ao expressar o que
eu queria. Com toda certeza, reescreveria muitas cenas.
Folha - Mulheres desequilibradas: Dóris, Heloísa, Raquel, Marina,
Santana. Homens desequilibrados:
Marcos. Não é um desequilíbrio?
Manoel Carlos - O nome "Mulheres Apaixonadas" aponta para a
tentativa de criar um painel de
mulheres. E, entre as mulheres,
pinçar as que apresentam um
comportamento atípico, como o
do ciúme doentio, o alcoolismo
etc. Em meio a isso, destaquei a
normalidade de várias personagens. E mostro que o casal formado por Clara e Rafaela é um dos
mais equilibrados da novela. Mas
já recebi sugestões para fazer
"Homens Apaixonados", em que
as mulheres seriam coadjuvantes.
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