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"Escritor é personagem em extinção"
Italiano Alessando Baricco afirma que, no futuro, autores devem se aventurar em outros meios, e não ficar presos em livros
Escritor de 50 anos, que acaba de fazer o filme "Lezione 21", diz que ainda busca diferentes panoramas para sua obra literária
EDUARDO SIMÕES
ENVIADO ESPECIAL A PARATY
Um dos representantes da literatura propriamente dita numa Flip marcada pela presença
de uma cineasta (a argentina
Lucrecia Martel), uma psicanalista (a francesa Elisabeth Roudinesco) e um quadrinista (o
inglês Neil Gaiman), o escritor
italiano Alessando Baricco diz
que uma das coisas interessantes da festa de Paraty é justamente o fato de que os livros
não são vistos como um totem.
"Aqui trata-se, antes, do contar uma história, de se expressar e das técnica de narrar para
diferentes meios. Isso é absolutamente bom", disse Baricco,
um dos principais escritores
contemporâneos de seu país.
"Quando comecei eu queria,
é claro, escrever livros. Mas
também para outros meios. E
fiz teatro, cinema etc.", contou
Baricco, que teve o monólogo
"Novecentos" adaptado para o
cinema por Giuseppe Tornatore, e que acaba de escrever e dirigir um filme, "Lezione 21", estrelado por John Hurt.
"Acho que, no futuro, escrever será assim. O escritor que
faz livros apenas é um personagem em extinção".
Pela terceira vez no Brasil,
Baricco lança no país "Sem
Sangue" (Companhia das Letras). Seus livros "Esta História" e "Seda" também já saíram
aqui. O escritor, que completou
50 anos em janeiro, conta que
muitas coisas mudaram na Itália e na literatura do país desde
que ele começou a publicar livros, no início da década de 90.
"Minha geração foi a primeira a crescer com televisão, com
muita ficção sendo feita para a
TV, mas ainda sem computadores. Agora, há uma nova geração, que cresceu com novas tecnologias, com a internet, e ela
vem dando passos cada vez
mais distantes da chamada tradicional literatura italiana. Não
sei exatamente para onde. Mas
há muitos escritores talentosos, um bom mercado livreiro.
Fala-se que não se lê muito na
Itália, mas não é verdade."
Mudanças
Baricco não se considera de
uma "velha escola" de literatura italiana. Mas que se encontra
no meio do processo. "O que tenho escrito tem a ver com o
meu tempo agora. Talvez mude
em 20 ou 25 anos. Ainda estou
procurando diferentes panoramas para a minha literatura."
De Paraty, Baricco diz que vai
levar para a Roma, onde vive, as
memórias da cidade, que acha
muito bela e curiosa. O espírito
da Flip, diz, é semelhante ao de
pequenos festivais que acontecem ao redor do mundo. "E eu
talvez prefira assim do que
grandes feiras de livros."
O escritor vem tomando notas do que observa no Brasil, especialmente as diferenças entre o comportamento dos brasileiros e de europeus. "Tenho
muitas pequenas idéias anotadas destas viagens à América do
Sul. Na minha última ida a São
Paulo, sobretudo as pessoas me
interessaram. Os brasileiros
são tão diferentes de nós. Vocês
jogam um outro jogo. Os movimentos são semelhantes, mas o
tabuleiro é diferente."
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