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2ª FLIP
Cantor é destaque em partida de futebol contra um time de Parati; também jogaram Zé Miguel Wisnik e José Roberto Torero
Chico faz gol de letra em pelada literária
CASSIANO ELEK MACHADO
LUIZ FERNANDO VIANNA
ENVIADOS ESPECIAIS A PARATI
Nem Flamengo x Vasco nem
Santos x São Paulo. O jogo mais
importante da rodada foi no acanhado Trevo Clube, a quatro quilômetros de Parati. De um lado do
campo, um combinado de paratienses como Ferrugem, Cazuza e
Alicate, todos com as camisas rubro-negras do Pontal Esporte
Clube; do outro, o time da Festa
Literária Internacional de Parati,
com um dos centroavantes mais
conhecidos do país, Chico Buarque de Holanda.
A pelada começou cravadas 13h
de ontem, com um pontapé inicial (para o lado errado) da veterana editora inglesa Liz Calder,
técnica, cartola e goleira da Flip.
Mas foi no finalzinho do combate,
com chuva apertada e os espectadores já mais interessados na feijoada do salão ao lado do que nos
pontapés do futebol society, o lance capital, o gol mais famoso já
feito nos gramados de Parati.
Aos 29 minutos do segundo
tempo, Chico Buarque avançou
pela meia-esquerda, carregou a
bola para o pé canhoto e arrematou no canto direito do goleiro
Nanã, técnico em eletricidade de
Parati que vinha fazendo de tudo
para estragar a festança.
"Gol de letra", brincou o escritor José Roberto Torero (que tinha no seu banco de reservas outros trocadilhos, como "passou a
bola entre as canetas"). Ele foi
quase exceção. Dos jogadores que
vestiram a camisa da Flip poucos
eram das letras, casos do atacante
José Miguel Wisnik e do meia Michel Laub.
Na platéia, a concentração de
prosadores enchia mais do que
uma Kombi. "E então, mr. Paul
Auster, o sr. vai jogar? Eu? Você
não sabe que sou americano e que
americanos são péssimos no futebol?", disse à Folha o autor de
"Leviatã", momentos antes do
apito inicial.
Além dele e de sua mulher, a
também escritora Siri Hustvedt,
assistiram ao bate-bola autores
como Luis Fernando Verissimo
(que definiu a partida como
"muito técnica"), Ziraldo, Daniel
Galera, Ivana Arruda Leite, entre
outros.
O mais apreensivo durante o jogo não foi nenhum deles. O técnico da equipe, o editor Luiz
Schwarcz (goleiro, que não assumiu as metas graças a uma contusão no ombro), comandou seus
jogadores em estilo Felipão. De
pé, na beira do gramado, gritava
expressões como "troca a bola na
saída", "Chico, tem dois na esquerda" ou o enigmático "voltem
para cobrir o beque".
Parece que funcionou. Nos primeiros 30 minutos, seu time, o de
Chico, enfiou um 3 x 2 no time de
Parati (que, diga-se, foi orientado,
a reportagem testemunhou, "a
pegarem leve"); na segunda etapa,
fizeram 5 x 2 em cima de um combinado de "amigos da Flip" também.
O artilheiro, com quatro tentos,
foi Vinicius França, empresário
de Chico Buarque de Holanda,
com quem fez afinada dupla de
ataque -os dois desfilaram com
as chuteiras mais lustrosas; a
equipe paratiense atuou quase toda descalça.
Outro destaque dos flipeiros
"chiquenses" foi Antonio Pedro,
neto de Rubem Fonseca, com um
gol em cada partida. "Ele jogava
com o Chico quando morou em
Paris", comentava "corujosamente" a jornalista e editora Bia Corrêa do Lago.
Mais destacado do que seu filho
ou que todos os demais em campo -salvo Chico- foi outro personagem que entrou com tudo no
gramado, a partir do segundo
tempo: a chuva. Com o gramado
quase tão escorregadio como as
pedras de Parati, e poças que quase fizeram da pelada pólo aquático, o jogo foi encerrado pelo juiz
Ezio de Oliveira Rocha às 14h.
Não houve trocas de camisas.
Chico escapou correndo com a
sua para o vestiário. Na saída,
uma multidão de repórteres enfiou microfones e gravadores na
boca do jogador. Ele elogiou a
Flip, elogiou Paul Auster (em especial "A Invenção da Solidão"),
com quem faria debate mais tarde, desviou de pergunta sobre
seus 60 anos. Faltaram expressões
à "dei o melhor de si mesmo".
Antes de sair, e de posar para
uma foto com a equipe mirim do
time local Escolinha de Futebol
Ernani Cruz, ele respondeu a uma
pergunta da Folha.
Folha - Quem foi o melhor jogador em campo?
Chico Buarque de Holanda - A
modéstia me impede de dizer.
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