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CRÍTICA
Álbum não exclui alegria e festa
DA REPORTAGEM LOCAL
Não são poucas as façanhas
contidas em "Helião & Negra Li", que vão além de nova capitulação de uma grande gravadora ao hip hop, ao léxico da periferia paulistana, ao rap adocicado
e acidificado por hormônios femininos.
A mais visível das façanhas é a
habilidade de promover a convivência entre dois microcosmos
em geral ariscos um ao outro. De
São Paulo vem Mano Brown, debutando na Universal via "Periferia"; do Rio, onde o disco foi gravado, chega o samba-rapper Marcelo D2, em "O Rap Não Tem pra
Ninguém" -os dois cabem na
mesma festa, surpresa.
Sim, o termo "festa" cabe, e essa
é outra façanha. A dureza do rap
paulista está pautada no disco
(sobretudo em "Periferia" e
"Guerreiro & Guerreira"), mas
não exclui a alegria, nem a vocação para a música e a dança.
Ainda em formação, o canto de
Negra Li estende as fronteiras do
hip hop e rende, nos extremos,
peças dançantes como "A Noite",
o funk "Muito Bom Estar com
Você", a faixa com D2, "Exército
do Rap", "Fase de Febre".
Essa última, em particular, concentra outro trunfo do CD: o padrão de produção, que deixa distantes os tempos toscos que o rap
nacional bem conhece. É mérito
em parte da gravadora ainda poderosa, mas deve ser atribuído
antes aos produtores do álbum.
Eles são David Corcos (ligado a
D2) e Daniel Ganjaman (do núcleo Instituto) e têm larga atuação
em hip hop. Emolduram com
presteza a conciliação de saberes
cariocas e paulistas, underground
e mainstream, rap e canção.
Por último, mas não menos importante, há a vocação desenvolvida acima de muitas adversidades por Helião, nas rimas e no rap,
e por Negra Li, no canto e na composição. São polpudos e promissores, principalmente se adquirirem consciência crescente sobre o
que representam.
É que, por enquanto, causa estranheza o baixo teor de protesto
político e social no CD -uma
marca constante do rap. Pode ser
porque a própria dupla quis diminuir esse referencial, como afirma
Helião. Mas as histórias que eles
têm para contar e as experiências
com racismo descritas por Negra
Li sugerem que talvez não seja
bem assim. Tempo não faltará para que feridas ancestrais (e presentes) voltem a ser coçadas, mesmo que sob ritmo de festa.
(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)
Helião & Negra Li
Lançamento: Universal
Quanto: R$ 30, em média
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